São Paulo, terça-feira, 22 de junho de 2004

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ERUDITO

Responsáveis estudam parcerias para produções

Encontro em BH discute itinerância para aumentar montagens de ópera

JOÃO BATISTA NATALI
ENVIADO ESPECIAL A BELO HORIZONTE

Há algo de pobre na produção de óperas no Brasil. Curitiba não montará nenhuma ópera neste ano. O Rio montará só três, o mesmo número que Porto Alegre, Belém e Manaus. Brasília montará duas, Salvador e Belo Horizonte, uma. São Paulo terá cinco.
Uma das propostas para diminuir os custos e aumentar o número de montagens estaria teoricamente nas "itinerâncias", que fazem circular um espetáculo por muitas cidades. É o que foi discutido na última sexta em Belo Horizonte, em encontro de 21 secretários estaduais de Cultura e diretores de teatros líricos.
Eles assinaram um protocolo e colocaram no circuito a Funarte, órgão do Ministério da Cultura que possui uma coordenação para a ópera. Em princípio, dentro de 30 dias estará pronto um edital que entrega à União a formatação das co-produções e a busca de patrocínio unificado de estatais.
As parcerias até já existem. Belém, por exemplo, emprestou os cenários e figurinos, mas também o maestro e a diretora cênica (Carla Camurati) de uma montagem mineira do ano passado de "O Barbeiro de Sevilha", de Rossini. Também obteve do Municipal de São Paulo os figurinos de uma "Carmen", de Bizet.
Não se sabe ao certo em quanto o mecanismo baratearia os custos de uma ópera. Seria de 45%, segundo alguns dos participantes do encontro. Bem menos que isso, disse Lúcia Camargo, diretora artística do Municipal paulistano.
Sua última produção, "Romeu e Julieta", de Gounod, ficou em R$ 850 mil, dos quais direção cênica, cenografia e 450 figurinos corresponderam a um terço do orçamento. O resto para os cantores.
Mesmo assim, nem todos os patrocinadores aceitariam fazer alguma economia. Em Porto Alegre, por exemplo, um deles dispensou uma "itinerância" porque achou que teria mais prestígio com a montagem original de "Don Giovanni", de Mozart.
Há também a definição do que seja uma produção lírica. Luiz Fernando Malheiro, diretor dos corpos artísticos do teatro Amazonas, que terminou neste ano um ciclo completo do "Ring", de Wagner, diz que não basta ceder cenários e figurinos. Estão embutidas no espetáculo as direções cênica e musical. Ou seja, seria preciso que, ao hospedar uma montagem alheia, determinado teatro ficasse com o pacote completo.
É provável que a "itinerância" tenha outras vantagens para teatros do interior -há montagens líricas em Campinas e Ribeirão Preto, por exemplo- ou para aqueles de capitais que não estavam entre as nove representadas no encontro de Belo Horizonte.
Mesmo assim, já é um bom início de discussão, para que a ópera siga o exemplo de produções itinerantes que já funcionam para o público de teatro, conforme experiência do Nordeste, e também de música popular.


O jornalista João Batista Natali viajou a Belo Horizonte a convite da Fundação Clóvis Salgado, do governo de Minas Gerais


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