São Paulo, quinta-feira, 22 de junho de 2006

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COMIDA

Um clássico argentino

Chegada dos alfajores Havanna a São Paulo coloca em evidência o doce que vem sendo produzido há anos pelos imigrantes que moram aqui

JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL

Havanna virou sinônimo de alfajor e item obrigatório na bagagem de todo brasileiro em visita à Argentina. Ícone máximo do doce a marca pode continuar sendo; suvenir, não mais. Na próxima terça, dia 27, a Havanna inaugura seu primeiro café no Brasil e, ainda neste mês, um quiosque no shopping Iguatemi.
Em meio à euforia causada pela chegada dos famosos alfajores de Mar del Plata, convém lembrar que há anos imigrantes argentinos radicados em São Paulo produzem alfajores dignos de reverência.
Na pequena loja dos Alfajores Itati, no Jardim Paulista, não há espaço para aparatos. O que se encontra de cara é a hospitalidade portenha de Laila Emma Zogbi, 71, há 44 anos no Brasil, dos quais 25 fazendo delicados alfajores. A receita foi desenvolvida por Laila aqui. "Lá tem tanto que você vai e compra, não faz", diz. "Fui experimentando e experimentando até chegar a esta receita."
Os primeiros alfajores Itati mantiveram a tradição argentina de banhar em glacê (mistura de clara de ovo, açúcar de confeiteiro e limão), e não em chocolate, as bolachas previamente recheadas com uma generosa camada de doce de leite. Só depois é que vieram as coberturas de chocolate branco ou preto -estas sim as versões mais difundidas entre os brasileiros.
O doce de leite empregado é nacional: vem do interior de Minas Gerais -há ainda versões com goiaba, musse de limão, doce de leite com café, com nozes e castanha de caju.

Brigadeiro argentino
Foi vendendo empanadas e alfajores, há 26 anos, que a argentina Ana Massochi, 55, deu início ao Martín Fierro, na Vila Madalena. Desde então, os doces se tornaram um de seus carros-chefes. Além de dois tipos mais convencionais (o tradicional e uma variação com nozes), o Martín Fierro produz ainda um alfajor de maisena. Sem cobertura, a borda de doce de leite é envolvida em coco ralado.
"Eu diria que o alfajor na Argentina é o brigadeiro no Brasil. Festa de criança sem alfajor de maisena não é festa", conta Massochi. "No início, fazíamos só o de maisena. Uma vez que pegou, começamos a produzir os de Mar del Plata."
A distinção feita por Massochi ("os de Mar del Plata") não é casual. Apesar de ser consumido em toda a Argentina, cada local tem uma maneira de prepará-lo. Em Mar del Plata, o doce consiste de duas bolachas de chocolate entremeadas por uma camada de doce de leite e envoltas em chocolate ou em glacê. Em Santa Fé, o doce pode ser feito em tamanho individual ou maior, como uma torta. Sobreposta em várias camadas, a massa é salgada e mais dura, e o doce de leite, bem adocicado e firme. A cobertura é de glacê. Em Córdoba, além de a massa se assemelhar mais a um bolo que a uma bolacha, os alfajores são recheados com geléia de frutas e não têm cobertura.
Mas qual a origem do alfajor?
"O alfajor é um legado fundamental da civilização árabe mourisca do sul da Espanha", explica Ricardo Maranhão, historiador e professor da Anhembi Morumbi. "A Andaluzia era a pérola da civilização árabe medieval, e a cidade de Medina Sidonia foi uma espécie de capital do alfajor do mundo árabe."


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