São Paulo, sexta-feira, 22 de junho de 2007

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Cinema/estréias - Crítica/"Treze Homens e um Novo Segredo"

Ladrões-galãs satirizam mundo do jogo

No terceiro filme da série, George Clooney e Brad Pitt lideram vingança contra um dono de cassinos vivido por Al Pacino

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Quando se referem às bolsas de valores contemporâneas, ligadas on-line, jornalistas econômicos falam de um cassino global, funcionando 24 horas por dia.
Nós, leigos, não entendemos bulhufas do que dizem, mas suspeitamos que, enquanto os homens do dinheiro se locupletam com os valores, nós outros estamos perdendo algo.
É desse mundo que fazem parte Danny Ocean (George Clooney) e seus ladrões. É desse mundo que, ao chegarem ao terceiro exemplar da série, "Treze Homens e um Novo Segredo", vão quase se tornando um emblema. E é esse mundo que atacam sem cerimônia.
Eles não atacam, claro, as bolsas -o que provocaria um desastre mundial. Mas atacam cassinos -o que, simbolicamente, dá no mesmo.
Senão, vejamos. Todos suspeitamos que as esferas de poder e dinheiro deste mundo baseiam-se em uma sucessão de falcatruas (no Brasil suspeitamos um pouco mais, mas o fenômeno é mundial). E quem melhor poderia representar esse mundo do que os donos dos cassinos? São eles, por excelência, os caras que viciam dados, marcam cartas, adulteram roletas de modo a depenar os jogadores e vencer sempre.
Desse mundo viciado, Ocean e seus comparsas são os vingadores. São novos Robin Hoods, indo à forra por nós, classe média, que sempre nos sentimos depenados pelos poderes.
A idéia de vingança, aliás, surge desde as primeiras imagens de "Treze Homens...": um deles, Reuben (Elliott Gould) é espoliado pelo magnata Al Pacino, sujeito tão agressivamente desonesto quanto poderoso.
Reuben sofre um AVC ou algo assim e fica paralisado em uma cama. Pacino prepara-se para inaugurar um cassino que pretende revolucionar Las Vegas. Ocean, Rusty (Brad Pitt) e os demais armam-se para arruinar a vida do desonesto Bank.
Cada um dos ladrões do grupo tem sua especialidade. A trama supõe uma infinidade de "subplots", desenvolvidos com tal rapidez que nem sequer chegamos a reter porque a horas tantas um deles entra em um tubo de ventilação ou um outro vende uma máquina de jogo.
Não se trata de um problema narrativo: não há a menor importância saber o que cada um está fazendo. Importa que conhecemos a finalidade da trama e adivinhamos sua conclusão. Assim, a função que os roteiristas desempenham, e muito bem, é a de bolar situações inesperadas e bem-humoradas, em um quadro previsível.
Daí resulta uma dessas boas diversões de final de semana, de que o espectador sairá satisfeito por julgar que o dinheiro do bilhete (caro) não foi perdido. No mais, ele poderá se sentir vingado desse mundo de fortunas mal explicadas, de fraude e embusteiros, de jogos de poder e dinheiro incompreensíveis a nós mortais. Depois, podemos até esquecer o que vimos -mas isso é outra história.


TREZE HOMENS E UM NOVO SEGREDO
Produção:
EUA, 2007
Direção: Steven Soderbergh
Com: George Clooney, Al Pacino
Quando: em cartaz nos cines Bristol, Unibanco Arteplex e circuito
Avaliação: bom


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