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ARTES CÊNICAS
Mostra na cidade paulista apresenta espetáculos influenciados pelo universo do poeta, ator e dramaturgo
Festival de Rio Preto revitaliza sonho de Artaud
SÉRGIO SALVIA COELHO
ENVIADO ESPECIAL A RIO PRETO
"Parto em busca do impossível." Com lemas assim,
Antonin Artaud (1896-1948) levou à utopia a experiência de ser
ator. Vertiginoso, portanto, é o
patrono do Festival de Teatro de
Rio Preto, que começou no último dia 17 e segue até 28 de julho.
Na segunda edição internacional, o festival prossegue com tripla ambição: à noite, faz dos teatros da cidade encruzilhada cultural do mundo; forma atores locais
no projeto Preto Artaud, work-
shops coordenados por Márcia
Abujamra, cujos resultados são
apresentados de madrugada no
lugarUMBIGO, ao lado de performances mais elaboradas, propostas por artistas convidados.
De manhã e à tarde, o Preto Artaud vai aonde o povo está: praças, feiras e padarias, para ajudar
a formar uma platéia que poderá
se estimular a ver à noite tanto espetáculos consagrados como
mostras de processos de um teatro que reinventa o possível.
Todos os lados ganham. Angélica Zignani, afiando a verve artaudiana na realidade social brasileira, distribuiu lúdicos e repugnantes sanduíches em sua performance "Le Cou de la Balerine"
criando, após uma estréia tímida
no lugarUMBIGO, às 23h da última quarta, um divertido pânico
na feira da manhã seguinte.
Naquela madrugada, havia no
entanto exposições mais radicais,
como a de Tatiana Tomé que, trapezista de si, lançava-se na "Dança Antiaérea" proposta pelo diretor Vadim Niktin; e a lucidez do
ator Paschoal da Conceição, que
resgatou toda a humanidade de
Artaud diante de Van Gogh, "O
Suicidado da Sociedade".
Sedução da utopia
Celebra a humanidade também
o lírico balé aéreo do grupo australiano Strange Fruit: Peta O'Doherty, bela e inacessível do alto do
mastro flexível de 4,5 metros, arrisca-se a entregar uma flor nas
mãos de um ardoroso espectador
tornado colibri, e pronto assim
para ir depois prestigiar o ACT,
Ateliê de Criação Teatral de Luis
Melo, que deu mostras da importância de seu processo de formação de atores, dia 18, no intrigante
"O Homem e o Cão", dirigido por
Aderbal Freire-Filho.
Em outras praças, Maria Paula
Rego dança a elegante e alva Praga do "Auto do Estudante", de
Suassuna, outro homenageado
do festival, e a "Navelouca", da
Cia. de Mystérios e Novidades,
hasteia sua bandeira de utopias.
Porém, o mais pleno duplo de Artaud atende pelo nome de José
Celso Martinez Corrêa. Para um novo balanço do processo de
montagem de "Os Sertões", que agora só precisa de um espaço vazio, já que o universo de Euclydes da Cunha já está todo na fala de cada ator, a platéia foi seduzida a promover ela mesma a transgressão e removeu para o saguão suas
poltronas pagas.
Em mais uma noite mítica do festival de Rio Preto, Zé Celso não
só revitalizou o sonho de Artaud, mas coroou-o com a alegria.
O crítico Sérgio Salvia Coelho viajou a
convite da produção do festival
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