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"SHE WAS AND SHE IS, EVEN"
Platéia brasileira humaniza peça de Fabre
DO ENVIADO A RIO PRETO
"She Was and She Is, Even"
não é performance nem
teatro-dança. É peça de teatro,
prefere Jan Fabre, que não crê em
formas híbridas, mesmo que em
sua revista "Janus" faça a "conciliação" de pontos de vista de filósofos, fotógrafos, artistas...
Assim, a cruel auto-exposição
dessa noiva-máquina sexual, embora tenha sido inspirada na famosa obra de Duchamp "La Mariée Mise à Nu par Ses Célibataires
Mêmes", deve ser vista como um
monólogo: uma atriz dizendo um
texto dentro de um espaço cênico
meticulosamente estabelecido.
Há pouca margem para o improviso, e, por isso mesmo, quando ele é solicitado o efeito transtorna profundamente o público.
Um espaço vazio cercado por
uma rotunda de tecido requintado e coberto por um brilhante e
mágico linóleo concentra uma
marcação milimétrica.
Els Deceukelier, sensualmente
trágica, em seu vestido de noiva
que despe provocadoramente, repete um texto que vai de um rústico e sonoro lirismo (artaudiano,
para ficarmos no mote do festival)
a clichês da pornografia, acentuando a desumanização da prostituta até parecer uma máquina.
Cada quebra desse código rigidamente estabelecido é um acontecimento. Surge um cachimbo,
com o qual ela demonstra suas
habilidades sexuais. Tão freudianas quanto o cachimbo, três aranhas caem de suas saias, e a platéia percebe que elas estão vivas.
Na aguardada estréia de uma
montagem de Fabre no Brasil,
houve um fenômeno interessante. A reação da platéia brasileira
pareceu ser muito maior do que a
atriz se acostumara em anos de
temporada, e ela passou progressivamente a jogar com o público,
abandonando o angustiante rigor
mecânico europeu, chegando à
crise de riso e ao flerte aberto. Rio
Preto humanizou o espetáculo,
talvez o superficializando. Não
importa: são coisas de festival.
(SÉRGIO SALVIA COELHO)
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