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Crítica/teatro
"Naturalismo experimental" aparece no FIT
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
O público, reunido ao ar
livre, vê do outro lado
da rua os atores-transeuntes lutando contra uma
chuva de sonoplastia. Um motoqueiro de passagem aproveita para acenar, transeunte-ator. Poucos minutos depois, o
público verá o resto de peça -
"Dilacerado", da Cia Os Dezequilibrados -em uma sala em
ruínas da Swift.
Lá, os atores darão depoimentos sobre suas perdas pessoais, procurando equilibrar
humor e patético, nem sempre
evitando o piegas, mas com
simplicidade e honestidade.
O diretor Ivan Sugahara
aproveita a contribuição dos
seus atores, inclusive projetando ao fundo fotos e filmes caseiros, mas sabe que deve entremear os monólogos com
uma marcação estilizada, quase um teatro-dança, que expõe
melhor que em palavras o amor
e a perda.
Uma geração menosprezada
busca, assim, compartilhar
suas memórias e, se foi empobrecida pela televisão, é ela que
deverá ser reciclada. Sugahara,
no entanto, deixa a platéia na
função não de um interlocutor,
mas de uma testemunha mais
ou menos compassiva, como
um terapeuta -erro estratégico que é evitado na interatividade de sua montagem seguinte, "Combinado".
O naturalismo de televisão,
baseado no espontâneo e no
cotidiano, costuma ser julgado
como nocivo aos atores, que só
no teatro poderiam dar provas
de serem criadores. No entanto, décadas dessa modalidade
começa a transbordar dos limites do melodrama e da produção industrial.
De fato, o teatro experimental possibilita em seu aqui-agora a interlocução, e esse é o
grande trunfo de "A Falta que
Nos Move", do grupo carioca
Cia. Vértice do Teatro. É como
passar, para usar Pirandello como parâmetro, do "Homem
com a Flor na Boca" para "Seis
Personagens em Busca de um
Autor". A diretora Christiane
Jatahy tem, como Sugahara, a
memória afetiva de seus atores
como matéria-prima, mas não
apaga a luz da platéia.
Esse novo naturalismo não
tem nada de medíocre, nem de
fácil. Esse "A Falta que Nos Move" se colocando ao lado do
"Ensaio.Hamlet", de Enrique
Diaz, também no FIT, é a geração perdida mostrando finalmente a que veio, reciclando
com galhardia a mediocridade
a que foi exposta.
O crítico SERGIO SALVIA COELHO viajou a convite da organização do FIT Rio Preto
DILACERADOS
A FALTA QUE NOS MOVE
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