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"Sou popular por opção"
Miguel Falabella reafirma sua veia humorística com sitcom na Globo, estréia na direção de cinema em "Polaróides Urbanas" e protagoniza versão nacional de hit da Broadway
Ator diz que deixou gestão de teatros do Rio pois "falta verba para tudo': "As pessoas estão preocupadas só com o próprio umbigo"
LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL
Nos instantes finais da conversa com a Folha, ao ser indagado sobre sua idade, Miguel
Falabella se sai com esta: "Estou em algum lugar entre os 20
e a eternidade". O fim da frase,
vindo de alguém que produz
roteiros e dramaturgia em escala industrial, soa como aspiração -tornar-se imortal por
sua obra- mais do que como
capricho poético.
Aos 49, adepto da filosofia de
trabalho do "tudo ao mesmo
tempo agora" (para a qual contribui uma recorrente insônia),
ele desenvolve projetos em cinema, televisão e teatro. O primeiro a estrear, já nas próximas semanas (a Globo ainda
não fechou a data), é a sitcom
"Toma Lá, Dá Cá", escrita com
Maria Carmem Barbosa.
Na história, que retoma um
especial exibido no fim de
2005, Falabella é Mario Jorge,
corretor de imóveis casado em
segundas núpcias com Celinha
(Adriana Esteves), que é vizinho de porta da ex-mulher, Rita (Marisa Orth), em um "condomínio-Estado" (4.000 habitantes) do Rio.
"O mote é a loucura do confinamento", diz ele, que terá como colegas de "clausura" uma
paquita da terceira idade (a sogra predadora de guris) e uma
"pit girl" (a filha, que tem por
projeto de vida engravidar do
presidente do Senado). A comédia familiar seria um "Sai de
Baixo" repaginado? "Lá, a linguagem era histriônica, próxima da chanchada. Agora, muito
mais do que a graça física, o humor vem do texto", compara.
Também para a Globo, Falabella escreve a sinopse da novela "Muralha da China", que
enfoca a inseminação artificial.
"Os Produtores"
No teatro, depois dos perrengues com "Império" - musical
de sua autoria cuja temporada
carioca chegou a ser interrompida por atraso no repasse de
verbas municipais-, ele ensaia
(como ator e diretor) "Os Produtores". Trata-se da adaptação do espetáculo da Broadway
em que dois espertalhões tentam encher os bolsos com um
musical de tintas nazistas que
parece garantia de fracasso. A
estréia acontece em setembro,
em São Paulo.
"O Rio não tem dinheiro. As
pessoas [patrocinadores] estão
interessadas no mercado paulista", diz, sem esconder a contrariedade com os percalços de
"Império". "A história sempre
nos fará justiça. A peça vai ser
remontada no centenário da
minha morte", emenda, já em
tom jocoso.
Ele volta a adotar um tom sério ao falar de seu pedido de demissão do cargo de gestor da rede de teatros do Rio, em março
deste ano. Na época, sugeriu-se
que ele teria deixado a função
em resposta à não-liberação de
recursos para "Império".
"Saí por causa da falta de verbas para tudo. A máquina pública é coisa para [o escritor
Franz] Kafka [1883-1924].
Nunca fiz nada em proveito
próprio. O dinheiro para "Império" veio de concurso público,
e não da rede [de teatros]. O Rio
me fez uma estrela, e vi no cargo uma maneira de pagar de
volta à cidade. Mas é difícil, as
pessoas estão preocupadas só
com o próprio umbigo", diz.
Júlio César
Mais satisfeito Falabella está
com o cinema. No início de
2008, deve estrear "Cleópatra",
filme de Júlio Bressane em que
encarna o imperador romano
Júlio César. No encontro de seu
estilo comunicativo, cheio de
"cacos" (improvisos), com a
narrativa hermética de Bressane, prevaleceu a segunda. "Sou
macaca de gaiola quando tenho
que ser. O roteiro era claro:
mostrava um César atormentado pela epilepsia, pelo desejo de
ser Deus", lembra ele.
A adaptação ao registro do diretor não foi difícil. "Na minha
carreira, enveredei pelo popular por escolha. Sou popular
por opção", afirma, querendo
frisar sua versatilidade.
Como diretor de cinema, ele
estréia em "Polaróides Urbanas", adaptação de sua peça
"Como Encher um Biquíni Selvagem", ainda sem lançamento
definido. Com olhar de iniciante, ele vê duas razões para a
(anêmica) bilheteria recente do
cinema nacional. "Há um problema gravíssimo de roteiro, e
os blockbusters dominam tudo
[o circuito exibidor]. As pessoas
estão lobotomizadas".
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