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Peça de teatro mescla Maracanã com Shakespeare
MARCOS GRINSPUM FERRAZ
ENVIADO ESPECIAL A SÃO
JOSÉ DO RIO PRETO
"Que época os anos 50!",
diz, repetidas vezes, um dos
personagens de "Las Julietas", peça da uruguaia Marianella Morena aclamada
pelo público no 10º FIT.
Se por um lado a obra
identifica a nostalgia de um
povo por seu passado, por
outro tenta se livrar dessa
amarra, propondo um teatro
com linguagem contemporânea, bem distante dos padrões tradicionais do país.
Quatro homens entram no
palco ao som de Amy Winehouse e dançam de forma cômica enquanto se vestem
com trajes tradicionais.
A cena deixa claro que o
"jogo", como diz a diretora,
será sempre entre presente e
passado, em meio a diálogos,
brigas, danças e músicas.
Para criar as cenas, Morena partiu do que chama de
dois mitos aparentemente
sem conexão: o de "Romeu e
Julieta" e o do Maracanã (palco da vitória uruguaia na Copa de 1950).
"O "Maracanã" não é apenas o futebol, é a glória do
passado próspero que deixa
o país parado no tempo. É um
fardo muito pesado", afirma.
Sobre a tragédia de Shakespeare, Morena conta que
ela serviu de inspiração, mas
não queria montá-la usando
convenções tradicionais de
representação. "Até por serem quatro homens", brinca.
"Então, já partimos de algo com liberdade e humor e
mesclamos com o estereótipo do masculino no Uruguai:
muito macho, vencedor."
Esse jogo cômico com ares
fantasiosos teve, segundo a
diretora, uma recepção muito boa do público uruguaio,
assim como no FIT. "Mas não
com a crítica", diz.
"Há um setor muito conservador no país que acha
que fazer teatro é apenas representar um bom texto."
Segundo ela, já se observa
um início de mudança, mas
ainda há dificuldade em
romper com a tradição. E,
claro, com a nostalgia.
O jornalista MARCOS GRINSPUM FERRAZ hospeda-se a convite do evento
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