São Paulo, sexta, 22 de agosto de 1997.



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Mestiço se divide entre o simplório e o refinado

JOSIMAR MELO
especial para a Folha

Deste local de ótimo astral chamado Mestiço, aberto há dois meses, já se disse ser o restaurante "fusion" em sua mais alta expressão. "Fusion" pela mistura de donos paulistas, baianos e tailandeses, "fusion" pela mistura de erva-cidreira thai e vatapá da Bahia.
Não é. Nos pratos não há fusão de ingredientes ou procedimentos de diferentes nacionalidades. Não há mestiçagem gastronômica, mas justaposição de pratos de várias origens, cada um na sua. .
A desigualdade de origens acompanha a desigualdade de resultados. Sem esconder os méritos, derivados de uma equipe heterogênea, mas de belas passagens pela gastronomia da cidade.
A começar pela chef de cozinha Ina de Abreu. Ela é baiana e lega ao Mestiço um santo acarajé (a massa vem diretamente do terreiro de Mãe Menininha do Gantois) e um delicioso bolinho de estudante (doce, de polvilho de mandioca).
Seus sócios são Alexandre Negrão (ex-sócio do A Lanterna) e o casal Marina Pitpatpan (suíça filha de tailandesa) e o hoteleiro Cyro Sá, ambos vivendo há cinco anos na Tailândia, após dirigir concorrido bufê tailandês em São Paulo.
É deles todos o cardápio do Mestiço, que varia do simplório ao sofisticado. Pratos triviais são sempre gostosinhos, mas se espera mais quando são produzidos por grandes nomes. Por que um bifinho tão mirrado com o arroz e feijão? Bifinhos se comem em casa, num restaurante se espera algo especial. E por que servi-lo com empadinha, que é gostosa, mas não com arroz e feijão?
Por que um macarrão tão seco com o atum empanado com ervas? Por que pratos tailandeses de sabores tão semelhantes, sem a rica variedade e o calor das especiarias?
Mas o caleidoscópico cardápio tem também várias boas opções. O acarajé (embora maculado pelo Tabasco, no lugar da pimenta baiana); as cestinhas de massa crocante com frango, milho e especiarias; as singelas almôndegas com recheio de mozarela de búfalo e leve molho de tomate; a quiche de queijo e ervas frescas.
Finalmente, o camarão grelhado com risoni, pesto de salsinha e molho agridoce de amendoim prova que é possível comer bem e criativamente no Mestiço -embora nem sempre.



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