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Os Beatles tocam hoje em São Paulo
ERIKA PALOMINO
Colunista da Folha
Quem? Isso mesmo. Para nós, os
Beatles estão no Brasil: o Prodigy
toca hoje à noite em São Paulo,
após uma espera tão curta quanto
o pavio de sua explosão. O grupo
que é o principal nome da música
eletrônica do planeta responde pela proeza de ter estreitado o litígio
entre tecno e rock. Agora vamos
ver como é que isso funciona, na
prática e na porrada.
Com muito barulho, extremo
domínio de palco, iluminação que
agrada ravers e roqueiros, atitude
punk e visual (no mínimo)
pós-moderno, o Prodigy se apresenta na madrugada (previsão de
entrar no palco à 1h30).
Na cena da chamada dance music, eles já são véios de guerra. Foi
em 91 que o grupo chamou a atenção, vindo de Essex (Inglaterra),
com o hino "Charly" -ruídos,
vozes de criança e um trecho de
desenho junto às batidas do estilo
hardcore, então celebrado no circuito inglês das raves. No Brasil,
quem ia ao Sra. Krawitz, um úmido porão no centro de São Paulo,
também vai registrar.
A revolução sonora do grupo já
começava a se caracterizar, já que,
feito ímã, o Prodigy foi pegando
limalhas de gêneros como o hip
hop e o reggae.
Dois anos depois, outra bomba,
"Music for the Jilted Generation", e eles ganham status de pop
star: os quatro caras (o palhação
Keith Flint; o assustador vocalista
Maxim Reality; o mentor e tecladista Liam Howlett; o faz-nada e
dançarino Leeroy Thornhill) tornam-se também porta-vozes de
uma geração acossada pelo reacionarismo britânico.
Vêm dessa época (94) os megahits "Poison" e "Voodoo People", histórica e histérica, xamânica e enlouquecida.
Mas o grande lance de dados só
viria em 97. O Prodigy conquista a
América -foi a manchete de dez
entre dez revistas de música naquele período. A conquista tinha
mais do que os elementos da
"Cool Brittania" que veríamos
depois, ou apenas o sucesso de
mais um grupo inglês na América.
Tratava-se de fazer os americanos engolirem goela abaixo o tecno inventado lá mesmo e até então
menosprezado pela indústria pop.
Muitas guitarras, um hip hop
agressivo e o arrebatador videoclipe de "Breathe" (premiado como
a Escolha do Público naquele ano)
colaboraram para conquistar também um público universitário,
não necessariamente afeito a manifestações sob a luz estrobo, tirando o Prodigy de um suposto
"mundinho club" internacional.
Assim, de lá para cá, o Prodigy
puxou a cena eletrônica para outros patamares, tirando-a do gueto com esse excepcional "The Fat
of The Land". Liam Howlett diz
que quer que o público brasileiro
corresponda ao Prodigy. Bem...
vai ser fácil. Let it be.
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