São Paulo, sábado, 22 de agosto de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ultramagnetic disse "Smack my bitch up' primeiro

MARCELO NEGROMONTE
da Redação

Muito antes de "Smack My Bitch Up" causar furor em ouvidos mais pudicos, quando do lançamento do álbum "The Fat of the Land", do Prodigy, em 97, pelo menos seu refrão-título já tinha passado incólume, quando executado pelos rappers nova-iorquinos do Ultramagnetic MC's em 88.
Exceto para os ingleses de Essex, cuja banda de hip hop favorita é justamente o underground Ultramagnetic, com um rap old skool e pesado. O trecho está na música "Give the Drummer Some", do visionário e influente álbum de estréia do grupo, "Critical Beatdown" (New Plateau), distribuído no Brasil pela gravadora Velas.
Diz o louco -de fato- MC Kool Keith em meio a um sample de James Brown: "Get swift/ Then drift off and do my own thing/ Switch up/ Change my pitch up/ Smack my bitch up/ Like a pimp/ For any rapper", discretamente no começo de "Give the Drummer Some", da qual o Prodigy extraiu "Change my pitch up/ Smack my bitch up".
"Fique esperto/ viaje e faça o que quero/ Chicoteie/ Mude meu lançamento/ Espanque minha vagabunda/ Como um cafetão/ Para qualquer rapper" é uma tradução (bem) livre desse trecho.
O hoje cultuado Ultramagnetic foi pioneiro em utilizar samplers em suas músicas, usar vários instrumentos ao vivo e a ter um vocalista, "Kool" Keith Thorton -também conhecido como Rhythm X e mais conhecido como o erótico Dr. Octagon-, ex-paciente de uma instituição psiquiátrica, o Bellevue, em Nova York.
A participação de Kool Keith com o Prodigy não se limita a "Smack My Bitch Up". Ele está nos créditos dessa música e nos de "Diesel Power", outra música de "The Fat of the Land", co-escrita e cantada por Keith.
Formado em 83, o Ultramagnetic desintegrou-se em 93, deixando outros quatro álbuns.
O ex-líder da banda, Ced Gee, disse em entrevista à revista virtual "Addicted to Noise" que não pensou em nada específico quando compuseram "Give the Drummer Some". "Apenas dizíamos as coisas como vinham à mente."
Nove anos depois, sampleada pelo Prodigy, "Smack My Bitch Up" suscitou polêmicas das mais diversas, desde protestos de organizações feministas às censuras de disco e clipe, passando pela reformulação da capa do single -originalmente uma foto de um Fusca batido-, lançado pouco depois da morte da princesa Diana.
Em declaração à mesma revista, o líder do Prodigy, Liam Howlett, disse que a diferença entre a repercussão nula de "Give the Drummer Some" e o close exagerado da mídia em "Smack My Bitch Up" é o fato de que "rappers podem falar qualquer coisa, até sobre espancar uma mulher, e simplesmente serem cômicos".
Também porque o Ultramagnetic era absolutamente obscuro para o mainstream. O mesmo mainstream que o cultua hoje após um sampler num disco com mais de 10 milhões de cópias vendidas.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.