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DANÇA
"Salt", coreografia de Édouard Lock, é apresentada de hoje a domingo pela companhia canadense no teatro Alfa
La La La Human Steps acelera passo em SP
ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Sob um feixe de luz branca, que
ofusca o olhar, surge uma bailarina em sapatilhas de pontas. Do
palco imerso em sombra, aos
poucos vão surgindo outros parceiros, que no decorrer do espetáculo sempre acabam confluindo
para a dança a dois. A partir de tal
estrutura se desenvolve a dança
veloz e complexa de "Salt", novo
sucesso do grupo canadense La
La La Human Steps, que estréia
hoje, no teatro Alfa.
Concebido pelo coreógrafo
mais aclamado da dança contemporânea canadense, Édouard
Lock, que fundou o La La La em
Montreal, no início dos anos 80,
"Salt" procura desafiar a percepção e a concentração do público,
por meio de imagens que parecem se diluir sob o impacto da rapidez. Para tanto, os bailarinos
valem-se de grande virtuosismo,
pois a ordem também é não deixar a velocidade interferir na precisão dos movimentos.
Pela primeira vez, as bailarinas
do La La La usam sapatilhas de
pontas e associam desenvoltura
atlética à técnica do balé clássico.
Segundo Lock, tais recursos contribuem para intensificar os efeitos da velocidade, gerar tensão e,
por fim, produzir no espectador a
sensação de que não será possível
reter na memória tudo o que suas
retinas estão captando.
No título "Salt" (Sal), Lock reafirma sua proposta. Além de sugerir resíduo ou as sobras que o
mar deixa na areia, o nome do espetáculo ainda contém o duplo
sentido da substância capaz de
purificar os alimentos, mas também se converter em droga. Sob o
signo da dubiedade, "Salt" transcorre num ambiente em preto-e-branco, e sua música ao vivo contrasta os sons distorcidos de uma
guitarra elétrica e as harmonias de
um piano e de um violoncelo.
Para completar, as danças de casais são predominantes na coreografia de "Salt". "Há uma complementaridade de forças na dança a
dois e o casal é um signo universal", diz Lock. "Salt" ainda inclui
em sua cenografia uma sucessão
de imagens virtuais, filmadas pelo
próprio coreógrafo. Projetadas
em telas arredondadas, contrapõem a vitalidade de um bebê a
expressões maliciosas de adultos.
Lock diz que não há um tema
específico em "Salt", que estreou
em 98 no Japão, com o objetivo de
dar a volta ao mundo até 2001.
"Contudo uma profunda tristeza
emana do espetáculo", diz. Desde
"2", sua coreografia anterior,
Lock sintonizou suas metáforas
com a passagem do tempo e a urgência perante a finitude da vida.
Brilhante na concretização cênica de conceitos, Lock também
atua como cineasta e fotógrafo.
"Palavras são insuficientes para
expressar a percepção do mundo.
Imagens costumam ser mais eficazes e, quando nascemos, é por
meio do corpo que emitimos e recebemos informações."
Ao transpor tais pensamentos
para o palco, Lock procura estimular novas dimensões para o
olhar. "Geralmente, o que costumamos ver são pequenas porções
de um corpo majoritariamente
invisível, feito de células, órgãos
internos, emoções e alma. Ao colocar em cena corpos em movimento muito rápido, procuro fazer com que a sensação de velocidade e complexidade abra portas
para outra percepção, capaz de
nos levar além do que não conseguimos enxergar."
Com elenco renovado, o La La
La está de volta ao Brasil depois de
participar, oito anos atrás, do extinto Carlton Dance Festival.
Espetáculo: Salt, de Édouard Lock, com
o grupo La La La Human Steps
Quando: hoje e amanhã, às 21h;
domingo, às 18h
Onde: teatro Alfa (r. Bento Branco de
Andrade Filho, 722, tel. 0/xx/11/0800-558191)
Quanto: R$ 20 a R$ 90
Patrocinadores: IBM, Embratel e
Ministério da Cultura
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