FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

"O Homem do Caminho", de Plínio Marcos, seu penúltimo texto escrito para o teatro, é, de certa forma, um resumo de suas peças. Há nele aquele lado marginal e irônico, de uma poética bruta e realista, e também sua fase mística e transcendental.
O monólogo, interpretado por Cláudio Mamberti, ganha uma versão circense-cigana na direção de seu irmão Sérgio.
Tudo a ver com a história do texto, sobre Iur, um personagem errante, cujo objetivo é andar por 50 cidades, trepar com 25 mulheres e ainda conseguir uma foto de cada uma delas com dedicatória.
Iur tem três nomes, mas um nem ele mesmo sabe. É uma forma de enganar a morte, pois quando chegar a sua vez, ele não vai escutar o chamado. O espetáculo está repleto de imagens assim, simples e com efeito.
Cláudio, visivelmente nervoso no dia da estréia, tem uma atuação forte, que ressalta sua voz tonitruante. Já no início do espetáculo, ele nem sequer aparece, mas canta "Porta Aberta", de Vicente Celestino, da coxia do teatro, um belo efeito.
O figurino kitsch, um pouco exagerado, é adequado à proposta da encenação cigana. Há alguns elementos cênicos que chegam a atrapalhar, como as projeções de flores e rostos, uma citação desnecessária.
Em contraponto, é interessante a maneira como elementos circenses são introduzidos e auxiliam a dinamizar o monólogo.
A encenação, de maneira inteligente, com os recursos circenses e a atuação expansiva de Cláudio, cria um clima medieval, que de fato tem tudo a ver com o texto de Plínio Marcos, e no fim das contas, com a vida do próprio dramaturgo.
Afinal, Iur é um contador de histórias, que diverte os que estão a sua volta e ao mesmo tempo os faz pensar sobre o comportamento humano.
Ele, Iur-Plínio, é o homem do caminho que nos alegra enquanto nos faz refletir sobre nossas vidas, ao contrário dos "homens-prego" -outra boa tirada de Plínio- grudados ao chão, inertes. Feliz encontro este, entre os Mamberti e Plínio.

O Homem do Caminho    
Autor: Plínio Marcos Direção: Sérgio Mamberti Com: Cláudio Mamberti Quando: qui. a sáb., às 20h; dom., às 18h. Até 28/10 Onde: TBC - sala Assobradado (r. Major Diogo, 315, São Paulo, tel. 0/xx/11/3115-4622) Quanto: R$ 20