|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"FOLHA EXPLICA ADORNO"
Novo volume da coleção aponta as principais linhas do pensamento do filósofo alemão
Ensaio contextualiza apocalipse de Adorno
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
A obra do filósofo alemão
Theodor Adorno (1903-69),
cujo centenário de nascimento foi
comemorado no último dia 11, é
não apenas uma das mais influentes do século 20, como também
uma das mais exigentes.
Do ponto de vista intelectual, os
textos críticos mais densos de
Adorno, com seus complicados
torneios dialéticos, exigem do leitor paciência, concentração e,
idealmente, conhecimento da língua alemã.
Do ponto de vista político, o filósofo impõe uma lucidez incompatível com qualquer forma de
auto-engano. Quanto à cultura,
tornou-se célebre sua militância
contra o que batizou de "indústria
cultural", pelo que esta implica de
massificação do gosto, embotamento da inteligência e triunfo do
escapismo.
Trata-se, em suma, de um legado intelectual no mínimo incômodo. Adorno era certamente
um dos "apocalípticos" em quem
Umberto Eco estava pensando
quando escreveu seu "Apocalípticos e Integrados".
Ao enfrentar o desafio de escrever o volume "Adorno" da coleção Folha Explica, o professor de
teoria literária Márcio Seligmann-Silva optou acertadamente por
não tentar "trocar em miúdos" o
pensamento do filósofo -o que
seria impossível-, e sim "indicar
pistas que podem ajudar os leitores interessados a iniciar sua própria caminhada pela obra desse
pensador".
Diante da brevidade do livro, é
impressionante a quantidade de
portas que, munido de erudição e
clareza, Seligmann-Silva nos abre
na pedreira Adorno.
Além de apontar as principais
linhas de força do pensamento do
filósofo, o volume contextualiza
historicamente a formação e a
produção crítica de Adorno e de
seus interlocutores da chamada
Escola de Frankfurt, em especial
Walter Benjamin (de quem Seligmann-Silva traduziu "O Conceito
de Crítica de Arte no Romantismo") e Max Horkheimer.
O que é essencial à compreensão do pensamento adorniano,
mostra-nos o autor, é o reconhecimento de que ele é ao mesmo
tempo uma reação à catástrofe
contemporânea e uma tentativa
de releitura, a partir dela, da história da cultura ocidental.
Não por acaso, uma obra central da trajetória de Adorno, a
"Dialética do Esclarecimento", foi
escrita (em parceria com Horkheimer) durante o auge do horror nazista, entre 1941 e 1944.
Ter isso em mente ajuda a entender e aceitar a radicalidade das
idéias de Adorno, e mesmo sua
aparente sisudez.
Folha Explica Adorno
Autor: Márcio Seligmann-Silva
Editora: Publifolha
Quanto: R$ 12,90 (104 págs.)
Texto Anterior: Crítica: "Guerrilha" propõe política e ação para jovens Próximo Texto: Nelson Ascher: O Império contra-atacado Índice
|