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São Paulo, segunda-feira, 22 de setembro de 2003

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"FOLHA EXPLICA ADORNO"

Novo volume da coleção aponta as principais linhas do pensamento do filósofo alemão

Ensaio contextualiza apocalipse de Adorno

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

A obra do filósofo alemão Theodor Adorno (1903-69), cujo centenário de nascimento foi comemorado no último dia 11, é não apenas uma das mais influentes do século 20, como também uma das mais exigentes.
Do ponto de vista intelectual, os textos críticos mais densos de Adorno, com seus complicados torneios dialéticos, exigem do leitor paciência, concentração e, idealmente, conhecimento da língua alemã.
Do ponto de vista político, o filósofo impõe uma lucidez incompatível com qualquer forma de auto-engano. Quanto à cultura, tornou-se célebre sua militância contra o que batizou de "indústria cultural", pelo que esta implica de massificação do gosto, embotamento da inteligência e triunfo do escapismo.
Trata-se, em suma, de um legado intelectual no mínimo incômodo. Adorno era certamente um dos "apocalípticos" em quem Umberto Eco estava pensando quando escreveu seu "Apocalípticos e Integrados".
Ao enfrentar o desafio de escrever o volume "Adorno" da coleção Folha Explica, o professor de teoria literária Márcio Seligmann-Silva optou acertadamente por não tentar "trocar em miúdos" o pensamento do filósofo -o que seria impossível-, e sim "indicar pistas que podem ajudar os leitores interessados a iniciar sua própria caminhada pela obra desse pensador".
Diante da brevidade do livro, é impressionante a quantidade de portas que, munido de erudição e clareza, Seligmann-Silva nos abre na pedreira Adorno.
Além de apontar as principais linhas de força do pensamento do filósofo, o volume contextualiza historicamente a formação e a produção crítica de Adorno e de seus interlocutores da chamada Escola de Frankfurt, em especial Walter Benjamin (de quem Seligmann-Silva traduziu "O Conceito de Crítica de Arte no Romantismo") e Max Horkheimer.
O que é essencial à compreensão do pensamento adorniano, mostra-nos o autor, é o reconhecimento de que ele é ao mesmo tempo uma reação à catástrofe contemporânea e uma tentativa de releitura, a partir dela, da história da cultura ocidental.
Não por acaso, uma obra central da trajetória de Adorno, a "Dialética do Esclarecimento", foi escrita (em parceria com Horkheimer) durante o auge do horror nazista, entre 1941 e 1944.
Ter isso em mente ajuda a entender e aceitar a radicalidade das idéias de Adorno, e mesmo sua aparente sisudez.


Folha Explica Adorno
    
Autor: Márcio Seligmann-Silva
Editora: Publifolha
Quanto: R$ 12,90 (104 págs.)



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