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São Paulo, segunda-feira, 22 de setembro de 2003

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FOTOGRAFIA

Premiado com filmes como "Central do Brasil", artista usa lentes para captar "ventura e desventura da vida"

Carvalho busca êxtase em cenas estáticas

EDER CHIODETTO
EDITOR DE FOTOGRAFIA

A busca pelo "êxtase do momento decisivo" da fotografia tem levado Walter Carvalho, 56, premiado diretor de fotografia de filmes como "Central do Brasil" (1998) e "Carandiru" (2003), a trocar com maior frequência a câmera de cinema pela máquina fotógráfica.
Hoje Carvalho lança na Cinemateca Brasileira, às 20h, em São Paulo, o livro "Fotografias de um Filme" (Cosac & Naify), com imagens realizadas no set de filmagem de "Lavoura Arcaica" (01), longa de Luiz Fernando Carvalho baseado na obra homônima de Raduan Nassar. Durante o lançamento haverá uma sessão com o making of do filme.
Além de realizar a direção de fotografia do filme, Carvalho sacou sua câmera fotográfica, da qual nunca se separa, para fazer alguns registros em preto-e-branco durante os intervalos e os ensaios dos atores. "O mundo colorido eu gosto de contemplar, para fotografar tem que ser em preto-e-branco. É no preto-e-branco que está contida a ventura e a desventura da vida", diz.
Parte da ventura de Carvalho pode ser vista até o dia 28 no Instituto Moreira Salles, em SP, na mostra "Walter Carvalho, Fotógrafo", em que estão expostas imagens feitas em viagens e o ensaio "Matadouro Público", no qual flagra gados sendo abatidos.
Tanto no livro como na exposição fica clara a relação obsessiva de Carvalho com a câmera e o desejo de documentar tudo o que está ao seu redor. "Imagino a fotografia estática como um tiro em que a precisão tem que ser total para atingir o alvo. Se me precipito ou atraso um segundo para disparar, posso perder o momento. A idéia de captar esse momento decisivo me fascina. Fico trêmulo quando sinto que acertei, que atingi o zen. Meu coração dispara. É quando olho, mente e coração se alinham. No cinema não existe esse momento crucial", diz.

Decupagem
Preso aos limites da locação, Carvalho não conseguiu em "Fotografias de um Filme" um resultado tão interessante como nas descompromissadas imagens da mostra. No meio termo entre a documentação clássica e uma leitura menos formal as imagens do filme não vão muito além de um making of, termo que o autor diz detestar. A exceção é a bela sequência colorida do ator Selton Mello, gerada pelo acaso: Carvalho se confundiu e colocou na câmera um filme colorido já operado anteriormente. A sobreposição de imagens produzida pelo erro criou uma atmosfera lúdica que remete a imagens sacras.
Ao caminhar pelas cidades, Carvalho deixa que algumas imagens se imponham a ele: "A gente é visto pela cidade ao mesmo tempo que a vemos", diz. Como quem faz anotações sobre o percurso, segue colecionando imagens que se juntam num fio narrativo imprevisto.
O ensaio dos matadouros parece ser o ponto de equilíbrio entre o movimento do cinema e a estática da fotografia. Ali o ponto de vista do fotógrafo consegue, enfim, a decupagem necessária para alinhar olho, mente e coração ao mirar homem, boi e morte.



FOTOGRAFIAS DE UM FILME. Autor: Walter Carvalho. Editora: Cosac & Naify. Quanto: R$ 55 (124 págs., 61 fotos).

WALTER CARVALHO, FOTÓGRAFO.
Onde: Instituto Moreira Salles (r. Piauí, 844, 1º andar, Higienópolis, São Paulo, tel. 0/xx/11/3825-2560). Quando: de ter. a sex., das 13h às 19h; sáb. e dom., das 13h às 18h. Entrada franca. Até 28 de setembro.



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