São Paulo, quarta-feira, 22 de setembro de 2004

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TEATRO

Peça de Lilian Hellman tem Beatriz Segall no elenco

Clássica, "As Pequenas Raposas" se mantém atual com tema capitalista

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

"As Pequenas Raposas" (1939), de Lillian Hellman, é um clássico teatral que Beatriz Segall sempre sonhou encenar, mas o alto custo de uma montagem o inviabilizava. Agora, a convite do produtor Hermes Frederico, ela realiza o desejo de interpretar a terrível Regina num momento que considera muito apropriado.
"A peça é uma crítica ao capitalismo selvagem, predatório, de pessoas gananciosas. É extremamente moderna, porque mostra o que se vive hoje. Ainda mais para nós que estamos em época de eleições, quando tudo se promete e o único objetivo real é o do candidato de ficar rico", diz a atriz.
Dirigida por Naum Alves de Souza, a montagem que estréia hoje no CCBB do Rio é o primeiro trabalho de Segall ao lado de outro grande nome do teatro, Sérgio Britto. Os dois interpretam Regina e Lawrence Giddens, casal que vive uma situação-limite. Ele, rico e doente, não quer que a mulher trave com os irmãos uma guerra por mais dinheiro. Ela, ambiciosa, despreza o marido, com quem se casou por interesse.
"Ele diz que os dois já têm dinheiro suficiente, mas ela quer sempre mais. Embora a peça fale de uma época precisa, a mentalidade é a mesma de hoje, dos Bush e de muitos outros", diz Britto.
A época precisa é o início do século 20, quando o capitalismo americano se consolida e desponta uma burguesia ávida por dinheiro e prestígio. A família-chave são os Hubbard, que enriqueceram no sul dos EUA à custa de exploração dos negros (mesmo após o fim da escravidão), negociatas e casamentos armados.
Um desses casamentos une Oscar Hubbard (Ednei Giovenazzi) e Birdie (Joana Fomm). A união foi articulada por Ben Hubbard (Rogério Fróes) para que sua família ficasse com as terras que eram do pai de Birdie. Ela se torna refém dos Hubbard, que ainda invejam seus valores aristocráticos. "Ela é massacrada pelos outros. Está sozinha no mundo. É uma pluma de tão frágil. Para mim, que sempre faço a brava, a decidida, é uma personagem sensacional", empolga-se Joana Fomm.
Para Naum Alves de Souza, não há como o público não identificar os Hubbard de hoje. "Eles são novos-ricos. A ambição deles é como a de hoje, essa busca por acumular e acumular dinheiro sem nem ter como usar tudo em vida."
Para Beatriz Segall, a peça é um reencontro com Lillian Hellman. Em 1986, a atriz viveu a autora no monólogo "Lillian", de William Luce. "Estudei muito a vida e a obra dela. Era uma mulher que expunha suas idéias com muita coragem", exalta ela, que também traduziu (com Marco Antônio Guerra) "As Pequenas Raposas".
Lillian Hellman escreveu várias peças e roteiros de filmes, tendo adaptado para o cinema "As Pequenas Raposas" -que aqui se chamou "Pérfida", com Bette Davis como Regina. Ao lado do marido, o escritor Dashiel Hammet, Hellman foi um dos alvos mais notórios do macartismo.


AS PEQUENAS RAPOSAS. Onde: CCBB-RJ (r. Primeiro de Março, 66, RJ, tel. 0/xx/ 21/3808-2020). Quando: de qua. a dom., às 19h; até 12/12). Quanto: R$ 10.


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