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Crítica/"Menina
Má.com" Thriller superficial lança olhar ambíguo sobre pedofilia
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL
Em "Menina Má.com", o
mundo é movido por
perversões. Há, em
princípio, uma tela de computador, e acompanhamos um
chat onde uma garota e um homem se provocam, insinuam
sexo e, enfim, marcam um encontro de verdade.
Hayley (Ellen Page) tem 14
anos; Jeff (Patrick Wilson), um
descolado fotógrafo de moda,
uns 20 anos a mais. Trata-se de
um filme sobre pedofilia, ao
que tudo indica. Eles vão a um
café e, em seguida, para a casa
dele. As coisas se invertem. Jeff
será dopado por Hayley, amarrado e torturado. Somos levados a crer que ela quer justiça.
Mas, da terra de ninguém da
internet para as quatro paredes
do filme, "Menina Má.com" se
constrói como uma longa e
claustrofóbica sessão de sadomasoquismo entre dois únicos
personagens. Há uma certa
busca pela glamourização do
sofrimento (ou prazer) alheio
-não está muito longe de um
pornô-soft ao expor gritos, gemidos e suores, ou das cenas da
prisão iraquiana de Abu
Ghraib. A tortura é um espetáculo, parece dizer.
Ao preferir investir nesse pesadelo estilístico com ar de telefilme da TV paga, o diretor
David Slade entra, por vias tortas, no território das ambigüidades, algo tão caro a um pedófilo -o que leva um adulto a se
satisfazer sexualmente apenas
com uma criança? Enfim, é um
filme que denuncia a pedofilia
ou, ao contrário, é um filme que
relativiza o crime, ao sugerir
que a vítima (a menor de idade)
também busca o perigo e sente
prazer no ato?
"Menina Má.com" não aprofunda o mecanismo da perversão -apenas o exibe mas também esgota seus personagens.
Eles vivem em função de suas
obsessões. Nos pontos altos,
passa de raspão pelo interessante embate entre o imaginário e a realidade. Tudo é um jogo de aparências, num embate
psicológico que vai derrubando
máscaras. Não é apenas a questão moral que torna "Menina
Má.com" bom ou ruim. É a leviandade e superficialidade
com que trata assuntos ricos.
MENINA MÁ.COM
Direção: David Slade
Produção: EUA, 2005
Com: Ellen Page, Patrick Wilson
Quando: em cartaz no Frei Caneca Unibanco Arteplex, Interlagos e circuito
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