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Crítica/"Eleição - O Submundo do Poder"
Johnny To exibe vigor do cinema asiático
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Uma das imagens de divulgação de "Eleição"
mostra um homem no
alto de uma montanha, agachado sobre uma enorme pedra,
tendo ao fundo o mar de edifícios de Hong Kong. É uma síntese interessante da proposta
desse filme de Johnny To, craque do cinema de gênero asiático cuja obra só agora começa a
receber merecido reconhecimento internacional.
Em "Eleição" -que esteve na
competição do Festival de Cannes do ano passado-, To aborda um mundo de contradições,
bipartido entre os emblemas da
"civilização" (a cidade, a democracia) e da "barbárie" (a brutalidade, a lei da selva). Uma divisão que não se aplica apenas à
situação específica de Hong
Kong -um dos símbolos do
caótico capitalismo asiático-,
mas que também pode se estender a todo um mundo globalizado em transição.
Não por acaso, nenhum tiro é
disparado durante todo o filme.
A violência é executada a pau e
pedra e, em um dos momentos
mais brutais, macacos assistem
a assassinatos violentíssimos
-uma cena que remete, muito
curiosamente, à abertura do
"2001", de Kubrick.
A explosão da violência é
conseqüência inevitável do turbulento processo sucessório de
um grupo mafioso de Hong
Kong, que se dá, democraticamente, à base de votação entre
seus milhares de membros. Os
candidatos são o conservador
Lok (Simon Yam) e o arrojado
Big D (Tony Leung Ka Fai).
Big D usa uma série de artifícios (que podem tranqüilamente ser associados ao "marketing" eleitoral) para se eleger,
e, mesmo assim, perde para
Lok, sobretudo por causa da influência de um antigo líder, que
apóia seu rival. Big D não se
conformará com a derrota e
tentará conseguir, a qualquer
custo, o bastão centenário que
simboliza o poder do grupo.
"Eleição" desloca alguns elementos cotidianos da vida na
república contemporânea e
passa a observá-los por uma luz
estranha, soturna e aparentemente distorcida, mas que acaba sendo extremamente reveladora. Desconcertante, brutal,
atento a algumas das grandes
aflições contemporâneas, e, ao
mesmo tempo, arrojado esteticamente -principalmente na
montagem e em alguns enquadramentos-, o trabalho de
Johnny To mostra que, dentro
do cinema industrial, é possível
alguma boa dose de invenção.
Um trabalho que merece toda a
atenção, como um dos melhores exemplos do vigor do cinema de gênero asiático.
ELEIÇÃO - O SUBMUNDO DO PODER
Direção: Johnny To
Produção: Hong Kong, 2005
Com: Simon Yam, Tony Leung Ka Fai
Quando: em cartaz no Cinesesc
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