São Paulo, sábado, 22 de setembro de 2007

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José Resende faz humor pop em nova individual

Artista lembra obra de Brancusi em esculturas de sabonetes em bronze e resina

Em "Acasalamentos", escultor adota processo artesanal pela primeira vez, nas obras mais figurativas de sua trajetória artística

SILAS MARTÍ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Brancusi está tomando banho na mais nova individual de José Resende, aberta hoje pela galeria Marília Razuk. O escultor paulistano afirma que viu no célebre "Beijo" do artista romeno a inspiração para esculturas de um objeto com uma conexão menos óbvia com o amor: sabonetes.
Na obra de 1916, Constantin Brancusi (1876-1957) transforma um bloco de pedra em dois amantes que se beijam: o mesmo material parece se juntar e se separar ao mesmo tempo.
Em "Acasalamentos" -que reúne os trabalhos mais figurativos de sua trajetória- Resende troca a tradicional justaposição de elementos díspares que marcou suas esculturas e adota, pela primeira vez, um processo artesanal para forjar, do bronze, a imagem de dois sabonetes, grudados um no outro.
São 25 deles em tamanho real, 14 ampliados para um tamanho maior -alguns em fibra e resina-, além de seis placas de resina suspensas do teto -feitas do material usado em aparelhos odontológicos. Nebulizadores com luzes coloridas umidificam o ambiente e dão a impressão de levar a mostra para debaixo do chuveiro.
"É a idéia de trazer o humor e certo erotismo à flor do olho, não à flor da pele, porque a pele já está acostumada com a sensação", brinca. "Há certo humor, certa leveza em pensar em Brancusi tomando banho."

Povera pop
Resende sempre foi identificado com a pesquisa de materiais e a apropriação de elementos cotidianos às obras de arte, motes da arte povera -movimento italiano dos anos 1970.
A mostra atual causa certo espanto. Quem conhece seus trabalhos com tubos de cobre, chumbo, cabos de aço e chapas de ferro -a escultura "Jardim Jacques Tati" (1970) e uma obra sem título da mesma fase podem ser vistas em mostra do Instituto Tomie Ohtake- deve estranhar o impacto reduzido dos novos trabalhos, que ocupam apenas o primeiro piso da galeria. A nova técnica empregada é outro fator surpresa.
"Esses processos são mais lentos. Eu costumo ter ações mais imediatas com meus trabalhos, com gestos mais rápidos", diz o artista, que, em obra de 2001, mandou erguer vagões de trem com cabos de aço.
De tradicional na obra de Resende nesta mostra, só as placas penduradas do teto, feitas de maneira mais imediata: um cabo de aço confere a estrutura adquirida pela resina, enquanto tubos de cobre, usados no encanamento doméstico, servem de suporte.
Se o artista toma distância de trabalhos anteriores, não descarta conexões com a pop art, ao deslocar a imagem do sabonete para a galeria, numa operação que lembra também Magritte. Ex-integrante do grupo Rex, breve experimento iconoclasta brasileiro dos anos 1960, Resende diz assumir aqui essa herança pop, numa espécie de banho irreverente.


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