|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Bechara devora tempo e espaço
JUDITH MORAES
free-lance para a Folha
Devorar o tempo e o espaço. Essa
é a intenção do mais recente trabalho de José Bechara, cuja exposição
começa nesta quinta-feira, no
MAM (Museu de Arte Moderna)
do Rio. Com a idéia de fazer uma
intervenção pictórica no amplo espaço do salão monumental do
MAM, que tem oito metros de pé
direito e mil metros quadrados,
Bechara passou 11 meses trabalhando em um galpão de uma fábrica abandonada em São Cristóvão, na zona norte do Rio.
A série principal se chama "Comendo Margaridas" e é formada
por cinco telas gigantes de aproximadamente quatro metros de
comprimento por cinco metros de
largura. As peças foram confeccionadas a partir de lonas de caminhão e ferrugem e têm como missão interagir com a imensidão da
sala onde estarão expostas.
"É um volume de ar muito grande, eu tento engolir o ar. É um desafio, já que a intervenção no espaço real não é diretamente ligada à
tradição da experiência pictórica",
explica o artista.
A pintura numa escala superdimensionada e feita com materiais
não tradicionais, como lona e ferrugem, leva José Bechara a questionar se ele ainda se consideraria
um pintor. "Sou um pintor que
tenta esgarçar a sua própria experiência pictórica", responde.
A especificidade do projeto levou
Bechara, que possui um ateliê em
Santa Tereza, na região central do
Rio, ao galpão industrial da zona
norte. Segundo o artista, o novo local de trabalho o inspirou a pensar
em temas como tempo, memória,
sobra, resto, abandono e isolamento. Ele explica:
"A fábrica ocupa três quarteirões
num lugar onde a cidade sobrou. O
sistema econômico rejeitou aquela
massa falida, onde convivi com vira-latas e mendigos, comunidade
rejeitada pelo entorno. Essa atmosfera potencializou minhas
motivações para o trabalho."
O título da série, "Comendo
margaridas", remete à ação do
tempo, ingrediente imprescindível
na confecção da obra. Bechara utilizou palha de aço molhada, que,
deixada em contato com a lona,
produzia ferrugem com a passagem do tempo. A idéia de Bechara
é, com o resultado da deterioração
do tecido rústico, falar de corrosão, finitude e explorar a ação do
tempo. "O trabalho é um fenômeno que depende do tempo", afirma.
Ainda estarão presentes na mostra 12 telas de Bechara que estiveram expostas em São Paulo, nas
galerias Thomas Cohn e Marília
Razuk, até o último dia 11.
²
Exposição: José Bechara
Onde: MAM-Rio (av. Infante Dom Henrique,
85, Rio, tel. 021/210-2188)
Quando: de 25/09 a 22/11 (de ter. a dom.,
das 12h às 18h)
Quanto: R$ 3 e R$ 1,50 (estudantes e
maiores de 65 anos)
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|