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"O Auto de Leidiana" leva Rosemberg Cariry à sátira
da enviada a Salvador
"O Auto de Leidiana", filme inédito de média-metragem do diretor cearense Rosemberg Cariry,
abriu a 25ª Jornada Internacional
de Cinema da Bahia.
O filme, uma comédia paródica,
representa uma vertente nova na
obra de um diretor tematicamente
filiado ao projeto do cinema novo,
em que o Nordeste seco e as injustiças sociais predominam.
Tendo visitado a Jornada do ano
passado para apresentar seu longa
mais recente, "Corisco e Dadá",
Cariry conheceu o casal de atores
Nelson Xavier e Via Negromonte e,
mais tarde, achou que eles se adequariam ao tom satírico de seu novo filme.
O texto fora escrito por Mapurunga Filho em redondilhas (versos de sete sílabas), ao estilo dos
cordelistas nordestinos e inspirado no teatro que Gil Vicente desenvolveu em Portugal durante o século 16.
O título do filme, no entanto, é
uma referência ao mesmo tempo
humorística e terna às 60 mil meninas que, entre 1996 e 1997, foram
batizadas de Leidiana no Ceará,
em homenagem à princesa inglesa
Diana.
Num Ceará cheio de flores e cores das montanhas de Guaramiranga, inteiramente avesso às tradicionais imagens desoladoras da
seca, desenvolve-se essa versão
cordelesca de "Dona Flor e Seus
Dois Maridos".
Leidiana despreza o marido e
volta sua atenção a um beato.
Ameaçado, o marido invoca o diabo, interpretado por ninguém menos que José Mojica Marins, o lendário Zé do Caixão. Leidiana, porém, supera todos em esperteza e
assim derrota o orgulho machista
à sua volta.
Em entrevista à Folha, Nelson
Xavier, consagrado no cinema brasileiro desde seu trabalho em "Os
Fuzis", de Ruy Guerra, e Via Negromonte, atriz, cantora e bailarina -e jurada da 25ª Jornada-,
contaram de sua experiência com
Cariry.
(LN)
Folha - Como foi a experiência de
fazer "O Auto de Leidiana"?
Via Negromonte - Rimos muito,
adoramos fazer. Foi um relacionamento festivo e amistoso, iniciado
com Cariry durante a Jornada de
97. Depois, quando José Maria de
Mapurunga Filho ganhou um prêmio com o roteiro de "O Auto de
Leidiana", Cariry resolveu filmá-lo
e nos convidou.
Nelson Xavier - Fomos ao Ceará e
fizemos tudo em uma semana.
Negromonte - As filmagens duraram apenas três dias, e gastamos os
outros viajando, porque as montanhas de Guaramiranga ficam longe
de Fortaleza. É como uma Petrópolis cearense. Apesar de todo o
verde, o lugar é absolutamente
nordestino.
Folha - O filme vai um pouco contra a idéia de que a cultura popular
é uma cultura do sofrimento.
Xavier - Acho isso muito bom, vital à beça.
Negromonte - Para você ter uma
idéia, o set não era cenário. Aquele
colorido maravilhoso parece produzido, mas não é. A casinha da
Leidiana não foi nem pintada: ela
era realmente rosa e verde-jade. A
grama era realmente aquele tapete
verde.
Xavier - Não foi nada maquiado.
Folha - Como foi contracenar
com José Mojica Marins? Vocês já o
conheciam antes?
Xavier - Não com essa intimidade. Ele é uma pessoa inacreditável.
A pessoa dele é seu próprio personagem. Ele acorda e dorme impostado.
Negromonte - Dei uma de jornalista e perguntei a ele de onde havia
surgido aquela inspiração de ser
vampiro. Ele me disse que aos seis
anos teve um sonho que nunca
mais o abandonou. Parece coisa de
menino travesso com medo. A
mim, durante a filmagem, ele passou a sensação de ser mesmo um
menino desprotegido. Por isso, ele
é um vampiro cômico, um vampiro de desenho animado.
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