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CINEMA
Produções políticas e experimentais vindas de vários Estados do país são premiadas na 25ª edição do evento
Festival da Bahia privilegia filme político
LÚCIA NAGIB
enviada especial a Salvador
Os vencedores da 25ª Jornada Internacional de Cinema da Bahia,
encerrada na quinta-feira passada,
provam que, longe de estar morto,
o filme político representa uma
das principais tendências do cinema brasileiro atual.
O engajado "Novembrada", curta-metragem de ficção de Eduardo
Paredes (Santa Catarina), foi considerado o melhor filme do festival, recebendo o Prêmio Glauber
Rocha, no valor de R$ 5.000.
O título alude ao dia 30 de novembro de 1979, quando o então
presidente João Baptista Figueiredo foi recebido com violentos protestos em Florianópolis.
O episódio, se resultou em populares feridos e presos, marcou também o início da desintegração do
regime militar e o acirramento das
lutas pelo fim da censura e por eleições diretas.
Embora a reconstituição de época frequentemente exagere nas cores e no "pathos", "Novembrada"
convence sobretudo pela atuação
magistral de Lima Duarte, o João,
que recria com espantosa fidelidade os momentos hilários em que o
presidente resolve responder de
maneira pessoal aos manifestantes, pedindo-lhes que deixem sua
mãe de fora dos insultos.
Com toda a justiça (embora fosse
quase covardia competir com a
maioria de atores estreantes dos
demais filmes), Lima Duarte recebeu o prêmio de melhor ator. O filme acumulou ainda o Tatu de Prata de melhor som.
O júri reiterou sua preferência
pela temática social também no
campo do documentário. O bem-intencionado, mas algo capenga
"História de Avá - O Povo Invisível", de Bernardo Palmeira (Rio de
Janeiro), sobre os índios avá-canoeiro ameaçados de extinção, recebeu o Tatu de Ouro de melhor
filme documental.
O Tatu de Ouro de melhor documentário de longa-metragem foi
para o enfadonho "Tinta Roja",
dos argentinos Carmen Guarini e
Marcelo Cespedes, que tenta estabelecer uma complicada relação
entre a atividade dos jornalistas de
um tablóide sensacionalista e a decadência econômica argentina.
Outro filme de preocupação social, "Negros de Cedro" (Brasília),
recebeu a o merecido Tatu de Prata
pelo roteiro, de autoria de Vladimir Carvalho e Manfredo Caldas.
A preferência pelo político, ainda
que justificável, acabou deixando
de fora filmes criativos como "Geraldo Filme", documentário de
Carlos Cortez contendo excelente
pesquisa sobre o esquecido sambista paulista, ou o espirituoso "Simião Martiniano, o Camelô do Cinema", dos pernambucanos Clara
Angelica e Hilton Lacerda, sobre o
divertido cineasta trash.
Sobrou espaço para o experimentalismo, duplamente contemplado em "Todo Dia Todo", de Flávio Frederico (Tatu de Ouro de
melhor filme de ficção e Tatu de
Prata de melhor direção). Trata-se
de um tour de force de poucos e
longuíssimos planos-sequência.
"A Árvore da Miséria" (Paraíba),
filme um tanto confuso baseado
numa lenda popular, surpreendeu
ao acumular três prêmios: fotografia (Jane Malaquias), música (Didier Guigui) e atriz (Soia Lira).
Outros prêmios foram para
"Castelos de Vento", de Tania
Anaya (Minas Gerais), melhor filme de animação, e "Milton Dacosta - Íntimas Construções", do consagrado fotógrafo Mário Carneiro,
Prêmio Especial do Júri.
Na área de vídeo, ganhou o Tatu
de Ouro de melhor documentário
o meticuloso "Rosa de Sangue"
(Melina Hickinson, Pernambuco),
sobre a história da gravadora Rozenblit, que deu repercussão nacional à música pernambucana.
O Prêmio Diomedes Gramacho,
para a melhor produção baiana, ficou com o vídeo "Penitência", de
Joel de Almeida.
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