São Paulo, terça, 22 de setembro de 1998

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CINEMA
Produções políticas e experimentais vindas de vários Estados do país são premiadas na 25ª edição do evento
Festival da Bahia privilegia filme político

LÚCIA NAGIB
enviada especial a Salvador

Os vencedores da 25ª Jornada Internacional de Cinema da Bahia, encerrada na quinta-feira passada, provam que, longe de estar morto, o filme político representa uma das principais tendências do cinema brasileiro atual.
O engajado "Novembrada", curta-metragem de ficção de Eduardo Paredes (Santa Catarina), foi considerado o melhor filme do festival, recebendo o Prêmio Glauber Rocha, no valor de R$ 5.000.
O título alude ao dia 30 de novembro de 1979, quando o então presidente João Baptista Figueiredo foi recebido com violentos protestos em Florianópolis.
O episódio, se resultou em populares feridos e presos, marcou também o início da desintegração do regime militar e o acirramento das lutas pelo fim da censura e por eleições diretas.
Embora a reconstituição de época frequentemente exagere nas cores e no "pathos", "Novembrada" convence sobretudo pela atuação magistral de Lima Duarte, o João, que recria com espantosa fidelidade os momentos hilários em que o presidente resolve responder de maneira pessoal aos manifestantes, pedindo-lhes que deixem sua mãe de fora dos insultos.
Com toda a justiça (embora fosse quase covardia competir com a maioria de atores estreantes dos demais filmes), Lima Duarte recebeu o prêmio de melhor ator. O filme acumulou ainda o Tatu de Prata de melhor som.
O júri reiterou sua preferência pela temática social também no campo do documentário. O bem-intencionado, mas algo capenga "História de Avá - O Povo Invisível", de Bernardo Palmeira (Rio de Janeiro), sobre os índios avá-canoeiro ameaçados de extinção, recebeu o Tatu de Ouro de melhor filme documental.
O Tatu de Ouro de melhor documentário de longa-metragem foi para o enfadonho "Tinta Roja", dos argentinos Carmen Guarini e Marcelo Cespedes, que tenta estabelecer uma complicada relação entre a atividade dos jornalistas de um tablóide sensacionalista e a decadência econômica argentina.
Outro filme de preocupação social, "Negros de Cedro" (Brasília), recebeu a o merecido Tatu de Prata pelo roteiro, de autoria de Vladimir Carvalho e Manfredo Caldas.
A preferência pelo político, ainda que justificável, acabou deixando de fora filmes criativos como "Geraldo Filme", documentário de Carlos Cortez contendo excelente pesquisa sobre o esquecido sambista paulista, ou o espirituoso "Simião Martiniano, o Camelô do Cinema", dos pernambucanos Clara Angelica e Hilton Lacerda, sobre o divertido cineasta trash.
Sobrou espaço para o experimentalismo, duplamente contemplado em "Todo Dia Todo", de Flávio Frederico (Tatu de Ouro de melhor filme de ficção e Tatu de Prata de melhor direção). Trata-se de um tour de force de poucos e longuíssimos planos-sequência.
"A Árvore da Miséria" (Paraíba), filme um tanto confuso baseado numa lenda popular, surpreendeu ao acumular três prêmios: fotografia (Jane Malaquias), música (Didier Guigui) e atriz (Soia Lira).
Outros prêmios foram para "Castelos de Vento", de Tania Anaya (Minas Gerais), melhor filme de animação, e "Milton Dacosta - Íntimas Construções", do consagrado fotógrafo Mário Carneiro, Prêmio Especial do Júri.
Na área de vídeo, ganhou o Tatu de Ouro de melhor documentário o meticuloso "Rosa de Sangue" (Melina Hickinson, Pernambuco), sobre a história da gravadora Rozenblit, que deu repercussão nacional à música pernambucana.
O Prêmio Diomedes Gramacho, para a melhor produção baiana, ficou com o vídeo "Penitência", de Joel de Almeida.



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