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CINEMA
Filme de Paulo Thiago é a primeira produção brasileira a participar do evento, que acontece em Mar del Plata
'Policarpo' é indicado para festival argentino
ANNA LEE
da Sucursal do Rio
O filme "Policarpo Quaresma -
Herói do Brasil", do cineasta Paulo
Thiago, foi indicado para o 13º
Festival Internacional de Cine de
Mar del Plata, que começa em 13
de novembro, na Argentina.
Paulo Thiago disse que essa é a
primeira vez que o Brasil participa
do festival. Foram indicados 23 filmes, segundo ele, alguns importantes, como o inglês "A Senhora
Brown", de John Madden.
"A nossa participação significa a
volta do Brasil ao mercado cinematográfico latino-americano, do
qual nos afastamos pela má qualidade de comédias eróticas brasileiras lançadas na Argentina, nos
anos 90."
O filme -que traz no elenco
Paulo José, Giulia Gam, Bete Coelho e Aracy Balabanian, entre outros- é baseado no livro "O Triste Fim de Policarpo Quaresma", de
Lima Barreto. O lançamento está
marcado para março de 98.
"Estamos esperando o início do
ano letivo para tentar atingir o público de estudantes. Esse livro é leitura obrigatória nos colégios."
Thiago contou que resolveu filmar a história de Policarpo, quando, há três anos, releu a obra de
Lima Barreto e descobriu que ela
tratava de assuntos atuais.
Segundo o cineasta, o país vive
um momento de revisão geral, em
que a reflexão sobre a nacionalidade, a identidade cultural e social, a
ética e o significado do nativismo
devem ser prioridade.
"Barreto faz isso com profundidade, mas sem perder o humor."
Em "Policarpo Quaresma", Ricardo Coração dos Outros (Ylia
São Paulo), compositor de modinhas do século passado, canta as
glórias de Policarpo (Paulo José),
defensor da causas brasileiras.
Suas peripécias são tão variadas
quanto excêntricas.
No Congresso, Policarpo propõe
que o tupi-guarani seja a nova língua oficial do Brasil, provocando
enorme confusão.
Na festa de noivado do general
Albernaz (José Lewgoy), dança o
"togolomango" -ritual dos índios- e seduz a noiva Ismênia
(Luciana Braga).
Quaresma é considerado louco
por enfrentar o almirante Caldas
(Nelson Dantas), no arsenal da
Marinha, onde trabalha.
No hospício, ensina história do
Brasil e liberdade aos internos e
convence o psiquiatra Mendonça
(Jonas Bloch) de que loucura é
uma questão de ponto de vista.
Policarpo tenta ainda reformar o
campo e torna-se "fervoroso" defensor da República. Acaba fuzilado, mas antes ele e sua jovem afilhada Olga (Giulia Gam) descobrem que sempre se amaram, apesar de separados pelas convenções
sociais do parentesco e da idade.
"Com sua fragilidade, sua graça
e sua visão exageradamente ufanista, que chega a ser ridícula, e, ao
mesmo tempo, com sua grandeza
e coragem, Policarpo tem o perfil
do herói nacional", disse Thiago.
O cineasta explicou que o personagem de Lima Barreto é um Quixote nacional, que sonha com uma
pátria imaginária, entre o riso, a
loucura e a fé no Brasil.
Ele assume que, ao investir cerca
de R$ 3 milhões (que conseguiu
por meio de patrocínios) no filme,
se sentiu um pouco Policarpo.
"Sei que a fé que tenho no cinema nacional é 'policarpiana'. Mas
realmente acredito que posso atingir o coração de muitas pessoas."
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