São Paulo, Sexta-feira, 22 de Outubro de 1999
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EXPOSIÇÃO
Fotos feitas pelo futuro cineasta são reunidas em livro e estão expostas em Paris
Mostra apresenta o fotógrafo Kubrick


FÁTIMA GIGLIOTTI
de Paris

Mesmo antes de morrer, em 7 de março deste ano, em Londres, sem ver o lançamento de "De Olhos Bem Fechados", Stanley Kubrick já era considerado um dos grandes cineastas do século. Mas nas paredes do fórum de encontros culturais da Fnac Montparnasse (r. de Rennes, 136), em Paris, no primeiro andar, bem ao lado da seção de vídeos, revela-se pela primeira vez o brilho de um, igualmente grande, fotógrafo.
A exposição "Stanley Kubrick, Still Moving Pictures", em cartaz até o dia 30, traz dezenas de fotografias do jovem Kubrick, clicadas enquanto ele trabalhou para a famosa revista americana "Look", no período de 1940 a 1945, e selecionadas sob a coordenação de Rainer Crone, professor de história da arte e de mídia na Universidade Ludwig-Maximilians de Munique.
A exposição é apenas uma mostra do trabalho personalíssimo do fotógrafo Kubrick, que também pode ser conferido no livro lançado pela Fnac, traduzido do original alemão, "Stanley Kubrick, Still Moving Pictures -Photografies 1945-1950" (Rainer Crone e Petrus Graf Schaesberg, Ed. Iccarus-Fnac, 1999, US$ 38,5).
"A ilustração da realidade não conhece o bis, ela não é transcendente. A partir disso, parece mais interessante fazer parecer realista uma história fantástica e inverossímil", diz Kubrick em um de seus vários depoimentos recolhidos no livro. Mas se a afirmação vale para seu cinema genial, como aplicá-la para o trabalho de repórter fotográfico de uma revista de atualidades?
É justamente essa característica que, segundo Rainer Crone, coloca Kubrick em posição de igualdade entre os maiores fotógrafos do gênero, como Weegee, Robert Frank e Gary Winogrand.
Aos 13 anos, Kubrick ganhou de aniversário uma máquina fotográfica do pai. Quatro anos depois, antes de terminar o colegial, na ocasião da morte do presidente Franklin Roosevelt (1945), ele fotografou um vendedor numa banca de jornal. Ao fundo, todas as publicações noticiavam a morte do político. Vendeu-a para a "Look" por US$ 25. No mesmo mês foi contratado pela revista.
As fotos de Kubrick presentes na exposição e, sobretudo, no livro justificam o trabalhoso processo de Rainer Crone e seus colaboradores para dar vida a esse projeto. A "Look" fechou em 1971 e seu arquivo foi vendido à Livraria do Congresso, onde estão cerca de 5 milhões de registros não catalogados, conservados em câmaras frias.
O próprio Kubrick desejou boa sorte à equipe no ano passado, já que não tinha guardado sequer uma foto ou negativo. Foram recolhidas 800 peças.
Em preto-e-branco, as fotos de Kubrick para a "Look" captam as diferenças sociais das grandes cidades, como Chicago ou Nova York, onde ele realizou uma série no metrô com pessoas comuns em situações inusitadas.
Há uma série com crianças anônimas, sobretudo as de um orfanato, com efeito comovente. O "celibatário" ator Montgomery Clift e o pintor Salvador Dali estão entre as personalidades que passaram pelas lentes de Kubrick, ora em ensaios especiais ora em registros jornalísticos, bem como Louis Armstrong e George Lewis, fotografados para uma reportagem sobre as dixieland bands de New Orleans.
Foi com o ensaio sobre o boxeador Walter Cartier, campeão de pesos médios, realizado em dezembro de 1948, que Kubrick começou a voltar as lentes para o cinema.
Na primavera de 51, ele deixou a revista para produzir e dirigir seu primeiro filme, o documentário de 16 minutos sobre boxe e Cartier, "Day of the Fight". Mas essa é uma outra história.


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