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EXPOSIÇÃO
Fotos feitas pelo futuro cineasta são reunidas em livro e estão expostas em Paris
Mostra apresenta o fotógrafo Kubrick
FÁTIMA GIGLIOTTI
de Paris
Mesmo antes de morrer, em 7
de março deste ano, em Londres, sem ver o lançamento de
"De Olhos Bem Fechados", Stanley Kubrick já era considerado
um dos grandes cineastas do século. Mas nas paredes do fórum
de encontros culturais da Fnac
Montparnasse (r. de Rennes,
136), em Paris, no primeiro andar, bem ao lado da seção de vídeos, revela-se pela primeira vez
o brilho de um, igualmente
grande, fotógrafo.
A exposição "Stanley Kubrick,
Still Moving Pictures", em cartaz
até o dia 30, traz dezenas de fotografias do jovem Kubrick, clicadas enquanto ele trabalhou para
a famosa revista americana
"Look", no período de 1940 a
1945, e selecionadas sob a coordenação de Rainer Crone, professor de história da arte e de mídia na Universidade Ludwig-Maximilians de Munique.
A exposição é apenas uma
mostra do trabalho personalíssimo do fotógrafo Kubrick, que
também pode ser conferido no
livro lançado pela Fnac, traduzido do original alemão, "Stanley
Kubrick, Still Moving Pictures -Photografies 1945-1950" (Rainer
Crone e Petrus Graf Schaesberg,
Ed. Iccarus-Fnac, 1999, US$
38,5).
"A ilustração da realidade não
conhece o bis, ela não é transcendente. A partir disso, parece
mais interessante fazer parecer
realista uma história fantástica e
inverossímil", diz Kubrick em
um de seus vários depoimentos
recolhidos no livro. Mas se a afirmação vale para seu cinema genial, como aplicá-la para o trabalho de repórter fotográfico de
uma revista de atualidades?
É justamente essa característica que, segundo Rainer Crone,
coloca Kubrick em posição de
igualdade entre os maiores fotógrafos do gênero, como Weegee,
Robert Frank e Gary Winogrand.
Aos 13 anos, Kubrick ganhou
de aniversário uma máquina fotográfica do pai. Quatro anos depois, antes de terminar o colegial, na ocasião da morte do presidente Franklin Roosevelt
(1945), ele fotografou um vendedor numa banca de jornal. Ao
fundo, todas as publicações noticiavam a morte do político.
Vendeu-a para a "Look" por
US$ 25. No mesmo mês foi contratado pela revista.
As fotos de Kubrick presentes
na exposição e, sobretudo, no livro justificam o trabalhoso processo de Rainer Crone e seus colaboradores para dar vida a esse
projeto. A "Look" fechou em
1971 e seu arquivo foi vendido à
Livraria do Congresso, onde estão cerca de 5 milhões de registros não catalogados, conservados em câmaras frias.
O próprio Kubrick desejou
boa sorte à equipe no ano passado, já que não tinha guardado
sequer uma foto ou negativo.
Foram recolhidas 800 peças.
Em preto-e-branco, as fotos de
Kubrick para a "Look" captam
as diferenças sociais das grandes
cidades, como Chicago ou Nova
York, onde ele realizou uma série no metrô com pessoas comuns em situações inusitadas.
Há uma série com crianças
anônimas, sobretudo as de um
orfanato, com efeito comovente.
O "celibatário" ator Montgomery Clift e o pintor Salvador
Dali estão entre as personalidades que passaram pelas lentes de
Kubrick, ora em ensaios especiais ora em registros jornalísticos, bem como Louis Armstrong
e George Lewis, fotografados para uma reportagem sobre as dixieland bands de New Orleans.
Foi com o ensaio sobre o boxeador Walter Cartier, campeão
de pesos médios, realizado em
dezembro de 1948, que Kubrick
começou a voltar as lentes para o
cinema.
Na primavera de 51, ele deixou
a revista para produzir e dirigir
seu primeiro filme, o documentário de 16 minutos sobre boxe e
Cartier, "Day of the Fight". Mas
essa é uma outra história.
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