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CINEMA - ESTRÉIAS
Terror psicológico leva cineasta novato ao topo
CLAUDIO CASTILHO
especial para a Folha, em Los Angeles
Se a decisão de Bruce Willis de
deixar para o passado a fama de
ator de produções hollywoodianas de ação surpreendeu meio
mundo da indústria cinematográfica, o megassucesso de "O
Sexto Sentido" -filme de suspense estrelado pelo ator que entra em cartaz hoje no Brasil-serviu para o neófito diretor e roteirista do filme, M. Night Shyamalan, como uma carona mágica
aos anais da história do cinema
americano.
"O Sexto Sentido" divide com
outra produção de suspense psicológico, "A Bruxa de Blair", a
posição de grande vitorioso surpresa da recém-terminada temporada de verão e férias escolares
dos Estados Unidos.
Tal como "Blair", o filme do cineasta indiano de apenas 29 anos
de idade vem quebrando uma série de recordes. Entre os quais o
de ser, ao lado de "Titanic", a única produção a arrecadar U$ 20
milhões em bilheterias durante
cinco semanas consecutivas.
Dos impressionantes U$ 250
milhões faturados pelo filme de
Shyamalan até agora nos EUA,
pode-se tirar outro triunfo: "O
Sexto Sentido" já é o décimo-quinto filme de maior sucesso na
história em território americano.
Mais US$ 10 milhões nesse faturamento e o filme passará a ocupar a décima-segunda posição
desbancando "Tubarão", de Steven Spielberg.
Se existe alguém que está faturando o inesperado, não é Bruce
Willis, que já tem garantido um
salário de U$ 20 milhões por filme: é M. Night Shyamalan.
Mais um recorde: o cineasta
-que em "O Sexto Sentido",
conta a odisséia de um menino
(Haley Joel Osment) que entra
em contato com espíritos e recebe o auxílio de um psicólogo (Willis)- acaba de vender para a
Disney seu mais novo texto, "Unbreakable" (Inquebrável) por U$
5 milhões, U$ 1 milhão a mais do
que foi pago por "Despertar de
um Pesadelo" (97), até então o roteiro mais caro da história. Além
disso, Shyamalan vai receber
mais U$ 5 milhões pela direção.
Shyamalan concedeu entrevista
exclusiva à Folha, na qual ele falou, entre outros assuntos, sobre
o surpreendente sucesso de "O
Sexto Sentido", os rumores de
possíveis indicações para o Oscar
e dos cineastas que influenciam
seu trabalho. A seguir, os principais trechos da conversa.
Folha - O que o inspirou a escrever um filme sobre comunicação de vivos com espíritos?
M. Night Shyamalan - Não
acho que foi o pavor de fantasmas
que eu tinha quando criança (risos). Na verdade, a princípio eu
queria escrever um roteiro sobre
um serial killer. Depois de desenvolver os primeiros rascunhos,
percebi que a história do menino
que fazia contato com fantasmas
era a que eu pensava em contar.
Quanto mais eu me adiantava no
roteiro, mais distante ficava o personagem do serial killer, que acabou sumindo do contexto.
Folha - Você se considera uma
pessoa espiritual?
Shyamalan - Como pessoa sim,
mas não sou devoto de nenhuma
religião organizada.
Folha - Espiritual ao ponto de
acreditar em vida após a morte?
Shyamalan - Acho que estou
aberto para aceitar essa possibilidade. Não tenho certeza absoluta
da existência de outras vidas porque nunca tive provas disso. O
meu filme trata exatamente dessa
possibilidade.
Folha - Sua primeira vitória
com esse filme foi concluí-lo
sem que o texto fosse rescrito, o
que é uma coisa do outro mundo em Hollywood.
Shyamalan - Parece mesmo um
milagre. O roteiro que escrevi foi
o que usamos do começo ao fim
do filme. "O Sexto Sentido" foi o
primeiro da história a não sofrer
uma só alteração. Quando eu escrevi o roteiro eu sabia que o filme
ia fazer sucesso porque sabia da
qualidade do material que estava
criando. Não sabia, no entanto,
que ia ser esse imenso sucesso.
Desde o princípio, eu escrevi
pensando em atingir os mais variados públicos possíveis. Minha
idéia sempre foi fazer um roteiro
universal, não somente para o público americano. Acho que isso
me ajudou a encontrar o tema
que interessa a qualquer pessoa.
Folha - Por que a fascinação
das pessoas pelo sobrenatural,
fantasmas, vida após a morte?
Shyamalan - Essa não é uma
fascinação recente. Ela sempre
existiu. Em Hamlet, por exemplo,
um fantasma conversa com ele e
esses temas são abordados. Vida
depois da morte é um mistério
tanto para aqueles que acreditam
quanto para os mais céticos dos
humanos, já que todos têm que
enfrentar a morte. É um tópico
universal como o amor que está
no coração de todos, mesmo que
em graus diferentes.
Folha - "O Sexto Sentido" e "A
Bruxa de Blair", ambos filmes de
suspense psicológico, são os
dois maiores sucessos do ano
nos EUA. Você acredita que estamos experimentando um retorno aos filmes de suspense ao
estilo de Hitchcock e deixando
efeitos especiais e tecnologia
em segundo plano?
Shyamalan - Espero que sim. O
importante é que os personagens,
independentemente do gênero do
filme em questão, sejam sempre
tratados com prioridade. Quando
a atenção necessária é dada ao
personagem o resultado do filme
é sempre melhor.
Folha - O seu trabalho sofre influência de Hitchcock?
Shyamalan - Lógico. Nesse filme mesmo todos os cantos da casa nos fazem lembrar Hitchcock:
a escada, a maçaneta da porta...
Ele como ninguém soube apresentar personagens sofrendo
transformações incríveis de sentimentos e emoções, como medo,
confusão, desespero, apreensão.
Outros cineastas também estão lá,
como Roman Polanski, em "O
Bebê de Rosemary", e Stanley Kubrick, em "O Iluminado".
Folha - A sua participação como ator no filme seria uma homenagem a Hitchcock?
Shyamalan - Não. Foi a oportunidade que encontrei de praticar
minha paixão pela arte de representar. Nunca tive essa oportunidade anteriormente. Escolhi um
papel pequeno que não prejudicasse o filme como um todo.
Folha - Como você descobriu o
ator-mirim Haley Osment? Ele
está magnífico no filme.
Shyamalan - Entrevistei mais
de 300 meninos em todo o país
para o papel. Haley foi um dos últimos naquele exaustivo processo
de testes.
Lembro que, quando eu o conheci, eu estava extremamente
cansado. A leitura de Haley foi esplêndida, mas meu cansaço me
deixou confuso. Não estava certo
se minha reação positiva à interpretação dele tinha a ver com meu
cansaço. Mas não tardou muito
para eu ter a certeza de que estava
diante do menino perfeito para
fazer o papel de Cole Sear.
Folha - Como você reage aos
rumores de prováveis indicações de seu filme ao Oscar?
Shyamalan - Acho tudo isso
maravilhoso. Me orgulho de toda
a equipe. O que acho importante é
que fizemos um filme que não somente entretém as pessoas como
também apresenta a história de
uma forma inteligente, sem abusar da platéia.
Folha - O que mais o surpreendeu em Bruce Willis?
Shyamalan - Sempre admirei
muito o talento de Bruce. No decorrer de sua carreira ele tem provado ser um verdadeiro camaleão. Fez TV, comédia, filmes de
ação e agora parte para projetos
mais dramáticos. Essa versatilidade não é qualquer um que possui.
Mas o que mais me surpreendeu nele foi a forte presença que
ele tem quando chega ao set. Bruce Willis é uma superestrela do cinema. A atmosfera muda quando
estamos na presença dele.
Folha - A parceria com ele foi
tão boa que vocês decidiram
trabalhar juntos mais uma vez.
Shyamalan - Pois é. Vamos fazer o filme "Unbreakable" juntos,
que também vai contar com a
participação de Samuel L. Jackson. O filme que escrevi trata de
um cara, interpretado por Bruce,
que sofre um terrível acidente e,
depois, percebe o quanto a sua vida havia mudado com aquela experiência. Temos planos de estréia para novembro do ano 2000.
Folha - E você fez história mais
uma vez conseguindo vender
esse roteiro por um montante
recorde à Disney.
Shyamalan - Realmente a venda desse roteiro para a Disney foi
uma negociação super-rápida e
fácil. "Unbreakable" possui uma
história muito interessante e vai
seguir o mesmo estilo de "O Sexto
Sentido". Vamos torcer para que
faça sucesso semelhante ao desse
filme (risos).
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