São Paulo, sexta-feira, 22 de outubro de 2004

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CINEMA

Em "Mar Aberto", de Chris Kentis, o medo e o suspense não são explícitos, mas apenas sugeridos

Filme exala sensação claustrofóbica

DA REDAÇÃO

O principal elemento que cria o medo e o suspense de "Mar Aberto" é a sugestão. Sangue, vísceras e explosões não são as vedetes do filme de Chris Kentis.
Após serem abandonados, o casal principal fica à deriva, à espera de que alguma coisa aconteça. Poucas coisas acontecem para o telespectador também.
Kentis prefere investir na criação de um clima claustrofóbico, apesar de o filme se passar em um espaço aberto. O crítico norte-americano Roger Ebert, por exemplo, disse que, após assistir ao filme, sentiu necessidade de "sair do cinema e dar uma volta à luz do sol", na tentativa de se animar. "Um grande vazio se apossou de mim", escreveu no jornal "Chicago Sun-Times".
No longa, o dia se torna noite, a sede e a fome dos personagens tornam-se desesperadoras e tubarões ameaçam. Para piorar a situação, a dupla resolve encenar uma espécie de discussão de relação em plena água. Do racional, partem para acusações e logo, para a exaustão.
Tudo, no entanto, pode ser resumido de outra forma. "Mar Aberto" possui grande parte das qualidades necessárias para emplacar um bom índice de terror, seguindo a fórmula matemática desenvolvida por uma equipe londrina, formada por universitários do King's College.
A pesquisa, bancada pela Sky Movies e que foi divulgada em agosto, elegeu "O Iluminado" (80), de Stanley Kubrick, como o maior longa de terror de todos os tempos. "Tubarão", de Spielberg, comparado amplamente a "Mar Aberto", foi considerado o melhor exemplo de filme "gore" (de terror sanguinolento).
Entre os fatores analisados, estão o uso da música, a divisão igualitária entre realidade e fantasia, sangue e entranhas.
Os elementos crescendo musical, desconhecido, cenas de perseguição e sensação de estar encurralado são somados e elevados ao quadrado. Então se adiciona o valor do choque. Uma pequena gama de personagens também é positiva, porque, segundo o estudo, o público cria uma empatia maior com menos pessoas.
"Mar Aberto" ganha pontos com a claustrofobia em pleno alto-mar, reinante durante todo o filme, o pânico de os protagonistas estarem abandonados e próximos demais dos tubarões e o fato de tudo isso ser real -o diretor filmou com animais de verdade e se baseou em um fato ocorrido.
Colocando tudo isso na balança, ainda assim é muito improvável que o longa de Chris Kentis bata o clássico de 1980 de Kubrick. O número de lugares-comuns vai diminuir bastante o resultado final do longa.


Com agências internacionais

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