FREE-LANCE PARA A FOLHA

Bruno E quer fazer jazz espiritual. Segundo seus conceitos, o mais importante na música é o que você sente, tanto quem está tocando como quem está ouvindo. Assim, seu primeiro álbum como artista gente grande, de jazz, é extremamente sensorial. Free sem ser irritante demais em seus solos, cool sem ser complexo demais em seus arranjos, avant-garde sem ser incompreensível demais em seu vanguardismo, o disco apresenta temas simples, enriquecidos pelos ótimos improvisos dos músicos que participam e por seus arranjos seguros.
Com temas inspirados em Londres, no Tibete, no filho, na esposa, as composições são sensíveis, e os instrumentistas parecem ter entendido a proposta de cada uma, com um entrosamento que só músicos com experiência de dezenas de shows por mês poderiam conseguir. Marco da Costa, por exemplo, é baterista e produtor do show de Maria Rita. Fábio Sá foi o contrabaixista no disco da cantora. O pianista Giba Estebez toca regularmente com seu trio no All of Jazz. O trombonista Bocato se apresenta toda semana em casas pela cidade, geralmente ao lado do saxofonista Márcio Negri.
O bom gosto de Bruno E como fã de jazz foi seu grande aliado na produção do álbum, especialmente na escolha dos músicos e na preferência pelos timbres acústicos, com resultados sublimes em alguns momentos. Com base de piano, contrabaixo acústico, bateria, sax tenor, alguns arranjos de cordas, o disco poderia passar despercebido pelo ouvinte de jazz mais ortodoxo, não fosse pelas duas faixas com batidas eletrônicas quebradas que, convenhamos, não são as melhores do álbum. De qualquer maneira, todos os méritos por ser mais uma amostra das infinitas possibilidades do jazz e suas fusões.
(RONALDO EVANGELISTA)

Lovely Arthur
    
Artista: Bruno E
Gravadora: Trama
Quanto: R$ 23,50, em média