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CRÍTICA
Nova obra é parábola delicada sobre a fé
COLUNISTA DA FOLHA
"Espelho Mágico", novo filme de Manoel de Oliveira,
pode ser visto como uma tocante
reflexão agridoce sobre o lugar da
fé (cristã ou qualquer outra) na
sociedade contemporânea.
Baseado na novela "A Alma dos
Ricos", de Agustina Bessa-Luís
(parceira do diretor em inúmeros
outros trabalhos), o filme conta a
história de Alfreda (Leonor Silveira), dama rica cuja obsessão é ter
uma visão da Virgem Maria. Nem
mesmo seus conselheiros religiosos, como o padre Clodel (Lima
Duarte) e o professor de teologia
Heschel (Michel Piccoli), conseguem demovê-la da idéia fixa.
Disposta a ajudar na redenção
dos desencaminhados, Alfreda
contrata um jovem recém-saído
da prisão, Luciano (Ricardo Trepa, neto do cineasta português),
para lhe servir de companhia em
visita a locais sagrados.
Intrigado e afeiçoado pela patroa, Luciano trama com o falsário Filipe (Luís Miguel Cintra),
seu ex-companheiro de cadeia, a
encenação de uma aparição da
Virgem, usando para isso uma
moça do interior.
Oliveira conduz essa delicada
parábola trilhando o tempo todo
a linha tênue entre a religiosidade
e a ironia, parecendo aproximar-se ora de Carl Dreyer, ora de Luis
Buñuel. Nunca antes tinha ficado
tão clara sua concepção de cinema como instrumento de investigação da alma humana, daquilo
que a superfície das coisas ao
mesmo tempo revela e esconde.
Os longos planos fixos, contemplativos, no interior dos quais, entretanto, agitam-se todas as inquietações da alma, refletem uma
busca permanente da graça, daquilo que pode fazer o homem
transcender a miséria e a finitude.
Paradoxalmente, a câmera se
torna móvel e fluida nas cenas em
que assume o ponto de vista de
uma pessoa paralisada, em coma,
durante uma visita a Veneza e à
Terra Santa. A verdadeira viagem
é interior, parece dizer Oliveira a
um mundo cada vez mais esvaziado de espiritualidade.
Uma fala de Alfreda talvez possa
ser lida como uma declaração do
diretor: "Quem não quer salvar o
mundo não vale mais que um pepino seco". Fazer filmes sublimes
como esse foi a maneira que Oliveira encontrou para ajudar a salvar o mundo.
Espelho Mágico
Direção: Manoel de Oliveira
Quando: hoje, às 20h20, no Frei Caneca
Unibanco Arteplex; amanhã, às 16h10,
no Cine Bombril; e dias 24, às 17h40, no
Cineclube Vitrine; e 25, às 19h, na Faap
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