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BIA ABRAMO
A propaganda política e seu duplo
Por mais positividade
que se tente imprimir
aos filmes, a impressão
é de uma luta exaustiva
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AGORA, ACABOU o folclore. Ao
contrário do primeiro turno,
quando as exigüidades de
tempo, de domínio da linguagem televisiva e de idéias produzem aberrações hilariantes, a propaganda
eleitoral gratuita no segundo turno é
um ringue de batalha.
Bem postados, bem vestidos, bem
retocados, os candidatos fazem um
confronto imagem a imagem, palavra a palavra, cada uma delas milimetricamente ensaiadas, testadas,
calculadas.
Por mais positividade que se tente
imprimir ao tom dos filmes -e como se tenta!- a impressão que resta
do horário político é a de uma luta
exaustiva.
O curioso é que se obtém a vitória
ou a derrota, a adesão a esta ou àquela proposta e aqui, frise-se, estamos
examinando os recursos de linguagem e estilo, por meio de uma operação em que, mesmo com sentimentos edulcorados, maquiados e embalados para o consumo fácil e imediato, a agressividade própria da briga
política acaba por se impor.
Uns meses atrás, o programa
"Casseta e Planeta" fez uma paródia
genial de propagandas "oficiais", de
empresas públicas e mesmo de privadas, que se utilizam do recurso da
"musiquinha".
Em geral, junta-se um pout-pourri
de imagens de uma brasilidade feliz,
sorridente, popular, de representação transregional, transclassista
(desde que, é claro, os pobres que pareçam tenha todos os dentes bem
brancos), transetária a uma "musiquinha" tresandando a "Brasil". É
uma das fórmulas mais eficientes de
conferir uma pátina de alegria e otimismo à ideia de nação, fazendo o
espectador se render aos encantos e
às graças dessa abstração chamada
"povo".
Pois bem, é esse "povo", feliz e lindo, capaz de tantas manifestações de
beleza inconteste, que está sendo
disputado, palmo a palmo, consciência a consciência, escolha a escolha.
Daí, o aviso: essa imagem de felicidade, realização e pujança cultural
só se realiza se um e apenas um daqueles que se candidatam a chefe da
nação se elege, pois caso seja o outro,
é o negativo daquilo que é sugerido
pela "musiquinha" que teremos como perspectiva.
Se funciona? É claro que sim, mas
a questão é: a que custo? Sabemos de
um parte desse custo já desde as primeiras eleições diretas pós-regime
militar, mas a evolução das técnicas
de propaganda política sugerem que
o estrago pode ser bem mais permanente e maior.
biabramo.tv@uol.com.br
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