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Martinho da Vila aposta no
'Deus que dança' em novo disco
XICO SÁ
da Reportagem Local
Enquanto Caetano Veloso se
preocupa em zelar pelas suas memórias e aliterações em "Verdades Tropicais", livro que será lançado em convulsão da mídia no final de semana, Martinho da Vila
celebra a verdade fácil e o incomparável suingue brasileiro no disco
"Coisas de Deus".
E que se cuide Jorge Benjor,
maior músico da prosódia beat de
todos os tempos, o homem que ignorou a desprezível rima rica brasileira e grudou no verso livre como um Walt Whitman do morro,
aquele que a cegonha deixou, graças a Deus, em Madureira.
Martinho, que já nasceu com a
malandragem, agora pegou o espírito e filosofia de Hermes Trimegistus e sua tábua de esmeralda. É
todo exaltação, amor, falar bem
dos outros, caldo de feijão e crença
em um Deus que dança.
"Tem um frevo, tem uma marcha rancho que é meio ciranda,
tem um samba que é meio funkeado, tem partido-alto, tem um som
bacana de baile, com arranjo de
Paulo Moura", diz o autor de "Tá
Delícia, Tá Gostoso", o antológico
álbum anterior que fez carreira na
"serra Pelada" da indústria dos
discos de ouro.
"Coisas de Deus" foi lançado
oficialmente anteontem, com direito a caldo de feijão e festa de respeito no Rio. No final do mês, dia
30, a fuzarca se repete em forma de
show no Tom Brasil, em São Paulo, túmulo do samba e ressureição
do mercado fonográfico brasileiro.
"Pensei em fazer um disco baseado na natureza, que falasse só
do sol, da lua, da terra, mas depois
fiquei pensando... Deus é natureza, tranquilo, saiu, coisas de
Deus", diz o moço de Vila Isabel.
Para fazer o CD, Martinho reuniu só grife do samba: composições e arranjos passam por Walter
Rosa, Nelso Rufino, Zé Catimba,
Mané do Cavaco, Rildo Hora e
Luis Carlos Vila -este último
também tem um bom disco na
praça, pelo selo Velas.
O produto espiritual do sambista
tem uma ligação interessante com
o seu passado, quando sempre esteve prestando o seu apoio ao velho "Partidão", o Partido Comunista Brasileiro, ex-PCB.
"Eu me lembro do tempo assim,
das pessoas bem materialistas,
bem comunistas, que falavam que
não acreditavam em Deus, mas,
quando se despediam da gente, diziam: 'Deus te proteja'."
Entre os amigos comunistas que
acenavam para os céus, Martinho
da Vila recorda do jornalista e especialista em samba Sérgio Cabral
e do poeta Ferreira Gullar.
No novo CD, Martinho da Vila
informa que está menos machista.
Aliás, avisa melhor: "Nunca fui
essa coisa, sempre estive mais ligado à submissão, exaltação à mulher, embora tenham confundido,
no primeiro momento, o meu
amor, o meu dengo, a manha, com
machismo... Nossa Senhora!".
Nem machista nem fanático,
apenas carregado de fé. Mas sem
precisar se ajoelhar no milho de
nenhuma religião. O disco é um
apanhado de sons e exaltação aos
deuses que dançam.
Disco: Coisas de Deus
Artista: Martinho da Vila
Lançamento: Sony
Quanto: R$ 18, em média
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