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Costa acentua composição bela e fria em "Ossos"
da Redação
Para quem só conhece o cinema
de Portugal por meio das seguidas
obras-primas de Manoel de Oliveira, "Ossos", filme do cineasta Pedro Costa, pode funcionar como
acréscimo de referências.
Em seu terceiro longa, o promissor Costa acentua seu universo
sombrio, mas o resultado é decepcionante.
Na periferia miserável de Lisboa,
personagens erram como fantasmas. Clotilde é uma faxineira que
executa suas tarefas como um autômato. Sua amiga Tina mergulha
em desespero depois de um parto
indesejado. Após uma tentativa de
suicídio de Tina, o pai da criança
foge com o bebê, vaga pelas ruas e
é recebido em sua casa por uma
enfermeira caridosa.
Em "Ossos", Costa acentua sua
maneira austera de dirigir. Como
em seu filme anterior, "Casa de
Lava", exibido na 19ª Mostra, seu
domínio da composição do plano
é impressionante.
O problema de "Ossos" é a ausência de empatia da narrativa
com o espectador. As situações são
desagradáveis, os personagens são
obscuros e o filme é composto
quase inteiramente de tempos
mortos, esvaziados de ação.
Para agravar, as poucas situações
dramáticas são rarefeitas, tratadas
com um excesso de distanciamento que impede qualquer esforço de
boa vontade.
Os planos minimalistas -um
rosto sofrido, mãos que se cruzam- são belos, mas destituídos
de emoção.
Na cena da tentativa de suicídio
de Tina, por exemplo, vê-se a mãe
e o filho num sofá e ouve-se o ruído enervante do gás. A composição é perfeita, mas e daí?
Em "Casa de Lava", o diretor
português contava com o mistério
da paisagem vulcânica de Cabo
Verde e alcançava, por meio dela,
um registro do mistério e da incompreensão humanos.
Mesmo com problemas, "Ossos" foi aclamado em Veneza, e
Costa recebeu o prêmio de melhor
direção.
Talvez o espectador europeu sinta-se incomodado por ter que conviver com aquela pobreza logo ali
no seu quintal.
Para o espectador brasileiro, no
entanto, "Ossos" nem se aproxima da miséria brutal.
(CÁSSIO STARLING CARLOS)
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