São Paulo, quinta-feira, 22 de novembro de 2001

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RELÂMPAGOS

Luta armada

JOÃO GILBERTO NOLL

Andava rente ao muro. Não queria que vissem o estrago que cometera contra si mesmo. Quando se viu diante do espelho, veio-lhe o impulso de passar o fio da navalha desde o queixo até a margem do olho, marcando de vez a diferença de que precisava para abandonar sua imagem -aquela, fiel à passagem dos dias, como se lhe bastasse a aderência às gradações da luz, até se enrodilhar como um cão em noites onde só restava dormir sem sono, para jamais despertar além de sua própria intimidade, essa sondagem cheia de rasuras, ilegível, porra!, interminável... Não esperava que o corte deixaria o lençol e a fronha empapados de sangue. E que, tão logo amanhecesse, passaria a ser cultuado. Como o ferido de morte num conflito do qual o mundo, covarde, já desertara...


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