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RELÂMPAGOS
Luta armada
JOÃO GILBERTO NOLL
Andava rente ao muro. Não
queria que vissem o estrago
que cometera contra si mesmo. Quando se viu diante do
espelho, veio-lhe o impulso de
passar o fio da navalha desde o
queixo até a margem do olho,
marcando de vez a diferença
de que precisava para abandonar sua imagem -aquela, fiel
à passagem dos dias, como se
lhe bastasse a aderência às gradações da luz, até se enrodilhar
como um cão em noites onde
só restava dormir sem sono,
para jamais despertar além de
sua própria intimidade, essa
sondagem cheia de rasuras, ilegível, porra!, interminável...
Não esperava que o corte deixaria o lençol e a fronha empapados de sangue. E que, tão logo amanhecesse, passaria a ser
cultuado. Como o ferido de
morte num conflito do qual o
mundo, covarde, já desertara...
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