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TEATRO
Estréia de peça de Gerald Thomas, no Rio, marca mudança no estilo do diretor
Atores tomam as rédeas em "Deus Ex-Machina"
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Sai de foco Gerald Thomas e entram os atores. É essa a proposta
do diretor com a montagem de
"Deus Ex-Machina", que estréia
hoje no Sesc Copacabana, no Rio.
Para Thomas, essa é, entre as
peças que já encenou, a que os
atores tiveram a maior participação na montagem e marca uma
nova concepção no relacionamento ator/diretor.
"Até a idéia de encenar foi deles.
Fui pressionado por eles para
montá-la. Nunca tive atores tão
profissionais. Antes, tinha um ou
dois líderes no grupo, papel que já
coube a Bete Coelho e Luiz Damasceno. Eles [de "Ex-Machina""
tocaram o meu coração. Nunca fiquei tão emocionado com as interpretações", disse Thomas.
O diretor se refere aos cinco
principais atores de "Deus Ex-Machina", Fabiana Guglielmetti,
Amadeo Lamonier, Marcos Azevedo, Bruce Gomlevsky e Joelson
Gusson. Todos eles são da Companhia de Ópera Seca, responsável pela montagem.
"Deus Ex-Machina" trata da desilusão da humanidade com seus
símbolos, representados por um
super-homem (Azevedo) que só
se preocupa em se livrar da sua
imortalidade e um Sherlock Holmes (Gusson) ingênuo.
Gerald Thomas, que admitiu já
ter sido "temido" pelos atores que
dirigia, disse ter encontrado uma
nova relação com o grupo, na
qual não cabe mais a ele o papel
de figura central.
"Não quero ser mais um diretor
paternalista. Quero ter um grupo
forte, que as pessoas olhem os
atores e se impressionem com
eles. Já estou com meu ego satisfeito. Essa minha questão de auto-afirmação já amadureceu", disse,
justificando a sua opção de aparecer em segundo plano.
Há nove anos trabalhando com
Thomas, Azevedo disse que, no
começo, não se sentia à vontade
para contestar o diretor e o mesmo ocorria com o resto do grupo.
Essa situação, diz ele, mudou.
Em "Ex-Machina", os atores
participaram de todo o processo
de criação. O que foi possível graças à técnica denominada por
Thomas de "action writing", pela
qual o texto é escrito com base em
frases ditas pelos atores em meio à
ação. "Têm inúmeros detalhes
que são criação dos atores", disse
o diretor. "Estamos chamando a
responsabilidade para nós do
processo de criação", disse Amadeo Lamounier, que vive uma andrógina Louis Lane.
O texto foi montado inicialmente em Copenhague, na Dinamarca, em 1996, sob o título de "Chief
Butterknife and the Haunting Spirit of His Archenemy, Kriptodick" (algo como Chefe Faca-de-Manteiga e o Espírito Assombrado do Seu Arquiinimigo, Kriptopênis), com elenco internacional
da Companhia Teatral Sr. Dante.
Aproveitando a convergência
do tema de desilusão com os símbolos, o título da peça foi modificado na montagem brasileira em
razão dos atentados de 11 de setembro, quando as torres que
eram um símbolo de Nova York
foram destruídas.
Ex-machina, em dramaturgia, é
um recurso que serve de solução
para aquilo que nem mesmo
Deus consegue resolver. "É a interferência de Deus que naquele
momento [do ataque terrorista"
não funcionou. Naquele momento, é o Deus que não é máquina. O
mundo jamais se recuperará dos
atentados."
"Já estávamos iniciando os estudos do texto. Mas, quando ocorreram os atentados, dissemos [os
atores", unânimes: "É essa a peça'", afirma Azevedo.
DEUS EX-MACHINA - Concepção e
direção: Gerald Thomas. Com: Cia. Ópera
Seca. Onde: teatro Sesc Copacabana (r.
Domingos Ferreira, 160, Rio, tel. 0/xx/21/
2547-0156). Quando: estréia hoje (para
convidados), às 21h; de qui. a sáb., às
21h; e dom., às 20h; até 16/12. Quanto:
R$ 20 e R$ 10.
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