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CINEMA/ESTRÉIA
"HARRY POTTER E A CÂMARA SECRETA"
Muita magia deixa Potter cansativo
DO CRÍTICO DA FOLHA
Em "Harry Potter e a Câmara
Secreta", quase tudo é questão de magia. No cinema, também. Aliás, no cinema filma-se
com uma câmara (ou câmera).
Estamos, assim, diante de um
desses casos de encontro oportuno entre um assunto e um meio
de expressão: basta Harry Potter
ou um de seus coleguinhas agitar
sua varinha mágica e um efeito especial se produz.
Isso é uma parte essencial do cinema: a capacidade de criar maravilhas, de tornar palpável a imaginação. Estamos aqui no domínio do filme fantástico.
Em "A Câmara Secreta", segunda aventura do jovem Potter, existem outros elementos capazes de
nos seduzir. Em sua volta a Hogwarts, a escola de mágicos, Potter
vai reencontrar a tradição britânica das histórias de detetive e mistério: é preciso identificar quem
abriu a tal câmara secreta e libertou o monstro que está causando
uma série de estragos.
No mais, trata-se de um filme de
Chris Columbus, criador entre
outros de "Esqueceram de Mim",
isto é, um especialista em desejos
da infância e adolescência.
Em "Esqueceram de Mim", Columbus dava a um garoto a oportunidade de se virar sozinho (de
se tornar independente dos pais).
Aqui, novamente as crianças
-Harry e seus amigos Ron e
Hermione- são as vedetes.
A eles cabe resolver o mistério
que ameaça Hogwarts. Aos adultos resta o papel razoavelmente
subalterno de seres tutelares (caso
de Dumbledore, o bondoso diretor da escola, interpretado pelo
magnífico Richard Harris, que
acaba de morrer) ou de suspeitos
(como Lucius Malfoy, interpretado por Jason Isaacs).
Os problemas de "A Câmara Secreta" não estão, portanto, na falta de magia ou mesmo de uma
boa aventura. Eles se originam da
tendência hollywoodiana de acelerar loucamente o ritmo do filme, abarrotando-o de acontecimentos -de maneira a não permitir que o espectador se distraia.
Como se trata de um filme em
que a decifração de um mistério é
central, os estragos são consideráveis. Os personagens não têm
tempo de explanar suas deduções
ao espectador, e este fica até certo
ponto impedido de acompanhar
a trajetória intelectual dos heróis.
E essa trajetória acaba seccionada
por uma quantidade infindável e
repetitiva de números de magia.
É, em linhas gerais, o mesmo
problema do segundo "Indiana
Jones", de Spielberg: o movimento é ininterrupto, mas de certa
forma ele impede que a ação deslanche, ou seja, que se cumpra
com razoável harmonia o encontro entre o trajeto do herói e sua
reflexão, sua aventura interior.
Se tudo isso contribui para fazer
de "A Câmara Secreta" uma experiência um tanto cansativa, ainda
assim não deixa de ser uma diversão digna e simpática.
(INÁCIO ARAUJO)
Harry Potter e a Câmara Secreta
Harry Potter and the Chamber of Secrets
Direção: Chris Columbus
Produção: EUA, 2002
Com: Daniel Radcliffe, Emma Watson,
Rupert Grint
Quando: a partir de hoje nos cines ABC
Plaza Shopping, Eldorado, Interlagos,
Market Place Cinemark e circuito
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