São Paulo, sexta-feira, 22 de novembro de 2002

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CINEMA/ESTRÉIA

"HARRY POTTER E A CÂMARA SECRETA"

Muita magia deixa Potter cansativo

DO CRÍTICO DA FOLHA

Em "Harry Potter e a Câmara Secreta", quase tudo é questão de magia. No cinema, também. Aliás, no cinema filma-se com uma câmara (ou câmera).
Estamos, assim, diante de um desses casos de encontro oportuno entre um assunto e um meio de expressão: basta Harry Potter ou um de seus coleguinhas agitar sua varinha mágica e um efeito especial se produz.
Isso é uma parte essencial do cinema: a capacidade de criar maravilhas, de tornar palpável a imaginação. Estamos aqui no domínio do filme fantástico.
Em "A Câmara Secreta", segunda aventura do jovem Potter, existem outros elementos capazes de nos seduzir. Em sua volta a Hogwarts, a escola de mágicos, Potter vai reencontrar a tradição britânica das histórias de detetive e mistério: é preciso identificar quem abriu a tal câmara secreta e libertou o monstro que está causando uma série de estragos.
No mais, trata-se de um filme de Chris Columbus, criador entre outros de "Esqueceram de Mim", isto é, um especialista em desejos da infância e adolescência.
Em "Esqueceram de Mim", Columbus dava a um garoto a oportunidade de se virar sozinho (de se tornar independente dos pais). Aqui, novamente as crianças -Harry e seus amigos Ron e Hermione- são as vedetes.
A eles cabe resolver o mistério que ameaça Hogwarts. Aos adultos resta o papel razoavelmente subalterno de seres tutelares (caso de Dumbledore, o bondoso diretor da escola, interpretado pelo magnífico Richard Harris, que acaba de morrer) ou de suspeitos (como Lucius Malfoy, interpretado por Jason Isaacs).
Os problemas de "A Câmara Secreta" não estão, portanto, na falta de magia ou mesmo de uma boa aventura. Eles se originam da tendência hollywoodiana de acelerar loucamente o ritmo do filme, abarrotando-o de acontecimentos -de maneira a não permitir que o espectador se distraia.
Como se trata de um filme em que a decifração de um mistério é central, os estragos são consideráveis. Os personagens não têm tempo de explanar suas deduções ao espectador, e este fica até certo ponto impedido de acompanhar a trajetória intelectual dos heróis. E essa trajetória acaba seccionada por uma quantidade infindável e repetitiva de números de magia.
É, em linhas gerais, o mesmo problema do segundo "Indiana Jones", de Spielberg: o movimento é ininterrupto, mas de certa forma ele impede que a ação deslanche, ou seja, que se cumpra com razoável harmonia o encontro entre o trajeto do herói e sua reflexão, sua aventura interior.
Se tudo isso contribui para fazer de "A Câmara Secreta" uma experiência um tanto cansativa, ainda assim não deixa de ser uma diversão digna e simpática.
(INÁCIO ARAUJO)

Harry Potter e a Câmara Secreta
Harry Potter and the Chamber of Secrets


  
Direção: Chris Columbus
Produção: EUA, 2002
Com: Daniel Radcliffe, Emma Watson, Rupert Grint
Quando: a partir de hoje nos cines ABC Plaza Shopping, Eldorado, Interlagos, Market Place Cinemark e circuito



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