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São Paulo, sábado, 22 de novembro de 2003

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LIVROS/LANÇAMENTOS

Em série em três volumes, personalidades escrevem sobre suas obras, discos e filmes preferidos

"Náufragos" levam "dez mais" a ilha deserta

DA REPORTAGEM LOCAL

Baixaram um decreto-lei, uma medida provisória, um ato institucional determinando que você se isole em alguma ilha perdida do globo, levando apenas uma dezena de livros, discos ou filmes. Quais seriam os seus dez companheiros ad infinitum?
Os meus não interessam, os seus não sabemos, mas os de um grupo seleto de cineastas, músicos, escritores e afins agora vão ficar disponíveis.
A Publifolha está lançando a coleção "Ilha Deserta", livretos que compilam o que nomes como os ficcionistas Carlos Heitor Cony, colunista e membro do Conselho Editorial da Folha, e Moacyr Scliar, colunista da Folha, os músicos Tom Zé e Arnaldo Cohen, o economista Eduardo Giannetti ou a psicanalista Maria Rita Kehl carregariam para suas ínsulas.
São três os volumes que abrem a série, coordenada por Arthur Nestrovski, articulista da Folha, professor de literatura da PUC-SP e editor da Publifolha.
"Filmes" e "Discos" reúnem, cada um, os dez eleitos de sete "náufragos". "Livros" tem textos de oito Robinsons Crusoé, o último deles justamente um epílogo do artista e escritor Nuno Ramos sobre esse clássico personagem ilhéu de Daniel Dafoe.
"Robinson Crusoé" não entrou apenas na mochila do pintor. Scliar também escalou o "clássico da literatura do naufrágio" para sua ilha. O amigo de Sexta-Feira só perdeu em popularidade para "Em Busca do Tempo Perdido", de Marcel Proust, que estaria nas estantes feitas com coqueiro de três convidados: Cony, a colunista da Folha Nina Horta e o romancista e ombudsman da Folha Bernardo Ajzenberg.
Se Proust, um dos campeões das listas de dez mais emplacou, o outro pole position, James Joyce, não foi para nenhum arquipélago.
O mesmo aconteceu com um líder imbatível das pesquisas, "o maior filme do século". "Cidadão Kane", de Orson Welles, não passaria no DVD instalado na ilha de nenhum dos sete convidados -ainda que o diretor do Museu da Imagem e do Som, Amir Labaki, e a socióloga Isa Grinspum Ferraz tenham levado "É Tudo Verdade", do mesmo diretor.
A ausência de Joyce ou "Kane" apontam uma característica essencial da série "Ilha Deserta".
"Não queríamos fazer um guia, um mini "Cânone Ocidental". A orientação dada a todos foi que escolhessem não os que acreditam ser os melhores livros, discos ou filmes, mas trabalhos que ilustrassem suas paixões pela literatura, pela música e pelo cinema", conta Nestrovski. O organizador da coleção, que aventa a possibilidade de estender "Ilha" para outras áreas, como artes plásticas, também não pediu um formato canônico para os 22 ilhéus.
Cada um teve a liberdade de relacionar seus dez prediletos do modo como lhe aprouve. E foram vários os que burlaram o limite de uma dezena de obras. Inácio Araujo, João Moreira Salles e Isa Grinspum simplesmente escolheram 11. Tom Zé, por exemplo, usou o artifício de "queimar" dez CDs com as músicas ou lados de discos que mais gosta.
Além de Proust e "É Tudo Verdade", os mais populares no arquipélago "Ilha Deserta" foram Mozart e João Gilberto (só deu MPB e música clássica), filmes como "Blow Up", de Michelangelo Antonioni, "Janela Indiscreta", de Alfred Hitchcock, ou "Os Sete Samurais", de Akira Kurosawa. "Madame Bovary", de Gustave Flaubert, também não fez feio.
Nenhum náufrago escolheu o livro "Como Construir um Bote em uma Ilha Deserta", resposta brincalhona que Paulo Coelho fez à mesma pergunta, em recente programa "Roda Viva". Acompanhado de Mozart, Proust ou Hitchcock pra que tanta pressa em sair da ilha? (CASSIANO ELEK MACHADO)


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