|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LIVROS/LANÇAMENTOS
Em série em três volumes, personalidades escrevem sobre suas obras, discos e filmes preferidos
"Náufragos" levam "dez mais" a ilha deserta
DA REPORTAGEM LOCAL
Baixaram um decreto-lei, uma
medida provisória, um ato institucional determinando que você
se isole em alguma ilha perdida
do globo, levando apenas uma dezena de livros, discos ou filmes.
Quais seriam os seus dez companheiros ad infinitum?
Os meus não interessam, os
seus não sabemos, mas os de um
grupo seleto de cineastas, músicos, escritores e afins agora vão ficar disponíveis.
A Publifolha está lançando a coleção "Ilha Deserta", livretos que
compilam o que nomes como os
ficcionistas Carlos Heitor Cony,
colunista e membro do Conselho
Editorial da Folha, e Moacyr
Scliar, colunista da Folha, os músicos Tom Zé e Arnaldo Cohen, o
economista Eduardo Giannetti
ou a psicanalista Maria Rita Kehl
carregariam para suas ínsulas.
São três os volumes que abrem a
série, coordenada por Arthur
Nestrovski, articulista da Folha,
professor de literatura da PUC-SP
e editor da Publifolha.
"Filmes" e "Discos" reúnem, cada um, os dez eleitos de sete "náufragos". "Livros" tem textos de oito Robinsons Crusoé, o último
deles justamente um epílogo do
artista e escritor Nuno Ramos sobre esse clássico personagem
ilhéu de Daniel Dafoe.
"Robinson Crusoé" não entrou
apenas na mochila do pintor.
Scliar também escalou o "clássico
da literatura do naufrágio" para
sua ilha. O amigo de Sexta-Feira
só perdeu em popularidade para
"Em Busca do Tempo Perdido",
de Marcel Proust, que estaria nas
estantes feitas com coqueiro de
três convidados: Cony, a colunista
da Folha Nina Horta e o romancista e ombudsman da Folha Bernardo Ajzenberg.
Se Proust, um dos campeões das
listas de dez mais emplacou, o outro pole position, James Joyce,
não foi para nenhum arquipélago.
O mesmo aconteceu com um líder imbatível das pesquisas, "o
maior filme do século". "Cidadão
Kane", de Orson Welles, não passaria no DVD instalado na ilha de
nenhum dos sete convidados
-ainda que o diretor do Museu
da Imagem e do Som, Amir Labaki, e a socióloga Isa Grinspum
Ferraz tenham levado "É Tudo
Verdade", do mesmo diretor.
A ausência de Joyce ou "Kane"
apontam uma característica essencial da série "Ilha Deserta".
"Não queríamos fazer um guia,
um mini "Cânone Ocidental". A
orientação dada a todos foi que
escolhessem não os que acreditam ser os melhores livros, discos
ou filmes, mas trabalhos que ilustrassem suas paixões pela literatura, pela música e pelo cinema",
conta Nestrovski. O organizador
da coleção, que aventa a possibilidade de estender "Ilha" para outras áreas, como artes plásticas,
também não pediu um formato
canônico para os 22 ilhéus.
Cada um teve a liberdade de relacionar seus dez prediletos do
modo como lhe aprouve. E foram
vários os que burlaram o limite de
uma dezena de obras. Inácio
Araujo, João Moreira Salles e Isa
Grinspum simplesmente escolheram 11. Tom Zé, por exemplo,
usou o artifício de "queimar" dez
CDs com as músicas ou lados de
discos que mais gosta.
Além de Proust e "É Tudo Verdade", os mais populares no arquipélago "Ilha Deserta" foram
Mozart e João Gilberto (só deu
MPB e música clássica), filmes como "Blow Up", de Michelangelo
Antonioni, "Janela Indiscreta", de
Alfred Hitchcock, ou "Os Sete Samurais", de Akira Kurosawa.
"Madame Bovary", de Gustave
Flaubert, também não fez feio.
Nenhum náufrago escolheu o livro "Como Construir um Bote em
uma Ilha Deserta", resposta brincalhona que Paulo Coelho fez à
mesma pergunta, em recente programa "Roda Viva". Acompanhado de Mozart, Proust ou Hitchcock pra que tanta pressa em sair
da ilha?
(CASSIANO ELEK MACHADO)
Texto Anterior: Livro/lançamento: Stendhal contagia com estilo nítido e inquieto Próximo Texto: Panorâmica - Música: Stacey Pullen toca tecno minimalista no D-Edge Índice
|