São Paulo, quarta-feira, 22 de novembro de 2006

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"A Última Noite", o último filme, está em cartaz em SP

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

O anjo interpretado por Virginia Madsen em "A Última Noite", filme de Robert Altman em cartaz em São Paulo no cine HSBC Belas Artes, está ali para sublinhar que não é apenas um outrora popular programa de rádio que chega ao fim. O tema de fundo é a morte, ainda que em versão mais terna e suave.
No sentido estrito, alguns personagens vão mesmo encontrá-la ao final. Mas, simbolicamente, celebra-se também o funeral de um período na história do rádio (e, por extensão, do entretenimento de massas), era romântica em que valores nobres se sobrepunham à frieza contábil guiada somente pela busca da ampliação das margens de rentabilidade.
Mundo hostil e frustrante para quem trabalha com arte, como os músicos que se apresentam pela última vez no programa de rádio cujos bastidores são bisbilhotados pela câmera sinuosa de Altman. A melancolia no ar lança a dúvida: a morte não seria uma alternativa mais razoável do que a sobrevivência nesses tempos bicudos?
Alguém ali será agraciado pelo anjo com esse prêmio, saindo de cena em grande estilo. Os demais precisarão enfrentar o dia seguinte e, com ele, um dilema que agora já não preocupa mais Altman: lutar para manter a integridade, artística e pessoal, diante de condições pouco favoráveis a ela, ou reconhecer o desajuste e se aposentar?
Embalado por canções tristes, "A Última Noite" equivale, todo ele, à lenta execução de uma balada saudosista, com rompantes bem-humorados, mas de essência sombria, em torno da inevitabilidade (e da proximidade) da morte.


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