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"A Última Noite", o último filme, está em cartaz em SP
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
O anjo interpretado por Virginia Madsen em "A Última
Noite", filme de Robert Altman
em cartaz em São Paulo no cine
HSBC Belas Artes, está ali para
sublinhar que não é apenas um
outrora popular programa de
rádio que chega ao fim. O tema
de fundo é a morte, ainda que
em versão mais terna e suave.
No sentido estrito, alguns
personagens vão mesmo encontrá-la ao final. Mas, simbolicamente, celebra-se também
o funeral de um período na história do rádio (e, por extensão,
do entretenimento de massas),
era romântica em que valores
nobres se sobrepunham à frieza contábil guiada somente pela busca da ampliação das margens de rentabilidade.
Mundo hostil e frustrante
para quem trabalha com arte,
como os músicos que se apresentam pela última vez no programa de rádio cujos bastidores
são bisbilhotados pela câmera
sinuosa de Altman. A melancolia no ar lança a dúvida: a morte
não seria uma alternativa mais
razoável do que a sobrevivência
nesses tempos bicudos?
Alguém ali será agraciado pelo anjo com esse prêmio, saindo
de cena em grande estilo. Os
demais precisarão enfrentar o
dia seguinte e, com ele, um dilema que agora já não preocupa
mais Altman: lutar para manter
a integridade, artística e pessoal, diante de condições pouco
favoráveis a ela, ou reconhecer
o desajuste e se aposentar?
Embalado por canções tristes, "A Última Noite" equivale,
todo ele, à lenta execução de
uma balada saudosista, com
rompantes bem-humorados,
mas de essência sombria, em
torno da inevitabilidade (e da
proximidade) da morte.
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