ESTHER HAMBURGER
especial para a Folha

No próximo sábado, estréia "Axé Brasil" na Bandeirantes. Enquanto o Brasil, com sua vasta população negra, ainda engatinha no que se refere a espaço para os negros na mídia, os Estados Unidos, com seus meros 12% de negros, desenvolveram um amplo mercado de produtos especializados.
BET, ou Black Entertainment Television (Televisão Negra de Entretenimento), é o nome do canal a cabo feito por e para negros norte-americanos. Além de propiciar mercado de trabalho para profissionais e promover a auto-estima dos negros, o canal, que não é exclusivista, foge um pouco ao feijão com arroz. E é capaz de produzir comentários ácidos.
Fundado em 1980 -quando ia ao ar somente durante duas horas por semana-, o BET funciona 24 horas por dia, apresentando um grande leque de programação, com ênfase em música.
Misto de MTV e Univision, o BET preenche grande parte de sua grade com videoclipes de artistas negros. A emissora tem programas especializados em rap e hip hop, jazz e gospel.
"Tonight" informa sobre exposições e programações de interesse especial para a comunidade negra. Temas que não aparecem em outros canais, como a exposição de navios negreiros do século 17, encontrados e reconstruídos por arqueólogos, aqui viram notícia. Por vezes com comentários picantes.
Radicalizando uma crítica publicada nos principais jornais do país, o comentarista cultural rejeitou o novo filme de Steven Spielberg, "Amistad", por não representar o ponto de vista escravo.
Às vésperas do Natal, a tensão entre a autenticidade da cultura negra e sua exploração comercial aparece por exemplo em uma reportagem sobre o "Kwanzaa", uma celebração alternativa supostamente criada nos anos 80 na Califórnia. Hoje se vende o Kwanzaa como se vende o Natal.
Mas a empresa BET vai bem. E os anunciantes comparecem, tanto com comerciais protagonizados por brancos, como com filmes especialmente dedicados ao consumidor negro. Brancos aparecem também ocasionalmente nos programas da emissora.
A companhia explora um filão importante do mercado e se expande ativamente para outras áreas. Criou uma editora que publica duas revistas, a "BET Weekend" e a "Emerge". Produz e distribui produtos com a sua marca. Possui uma rede de restaurantes e atua na área financeira. A ousadia da iniciativa empresarial americana é enorme se comparada às ainda tímidas investidas negras na mídia brasileira. Sucesso ao "Axé Brasil".