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RÉPLICA
Fui engolido pelos monstros
JÚLIO MEDAGLIA
especial para a Folha
A propósito da reportagem
"Medaglia é demitido da Amazonas Filarmônica", publicada pela
Ilustrada em 17 de dezembro último, tenho esclarecimentos a fazer.
No momento em que o governador Amazonino Mendes me incumbiu de formar uma orquestra
para o teatro Amazonas, a primeira reação que tive foi a seguinte:
para que essa orquestra tenha
qualidade e seja imune às intempéries e interesses políticos, deverá ser estruturada como uma "organização social". Portanto, fora
da emperrada máquina pública.
A dotação orçamentária deve
ser aprovada por lei, assim não
poderá ser extinta com uma penada por um futuro governante.
Diferentemente do meu desejo
e o do próprio governador, ela foi
implantada na Secretaria de Cultura. A partir do momento em
que comecei a solicitar essa independência, parcialmente conseguida, fui submetido a um processo de tortura, comparável somente ao de meu "irmão" Claudio Santoro em Brasília.
O dele acabou com a sua morte.
O meu, com minha expulsão do
Amazonas. Inúmeros textos de
"empresa de utilidade pública"
chegaram a ser feitos e dois até registrados. Todos, porém, sempre
ligados à Secretaria.
O texto que criava a estrutura
social está assinado pelo governador. Mas as pressões daqueles que
viam na Filarmônica um objeto
de manobra política e pessoal,
com poderes na cidade, foram tão
grandes que o governador Amazonino voltou atrás.
Como nunca ninguém disse nada contra a qualidade da orquestra, contra meu trabalho, contra a
proposta como um todo; como a
Filarmônica era só brilho, elogios,
apoio popular e dos críticos, até
mesmo fora de Manaus; como o
clima de trabalho com os músicos
era sereno e de alta produtividade; como o próprio governador se
referia à orquestra como "a pérola" de seu governo, a fórmula encontrada por meus detratores foi
a de fazer acusações pessoais as
mais sem sentido, promovendo
uma demissão que não foi sequer
fruto de uma deliberação do conselho administrativo.
Arbitrária, portanto. As manifestações contrárias à minha demissão chegaram às centenas. A
tática do avestruz e da intimidação, porém, foi a utilizada por
aqueles que jamais souberam como se faz cultura, alguns empoleirados no poder público, outros
dependentes dele.
Os monstros que quis afastar do
processo artístico me engoliram
antes. Coisas da vida...
O maestro Júlio Medaglia, 61, é ex-regente
da Amazonas Filarmônica
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