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PRÉ-OSCAR
Favorito ao Globo fala de filme
LUCIANO VIANNA
especial para a Folha em Londres
Fazendo uma crítica contundente da sociedade americana,"Beleza Americana", o grande
nome do Globo de Ouro deste ano,
com seis indicações, já arrecadou
quase US$ 67,6 milhões de bilheteria apenas nos Estados Unidos.
"Beleza Americana" é uma comédia de humor negro, mostrando o dia-a-dia de um "looser"
(perdedor) americano (Kevin
Spacey): humilhado no emprego,
rejeitado pela mulher (Annette
Bening), ainda sofre com as constantes brigas com a filha adolescente (a atriz teen Thora Birch).
Tomado por uma paixão por
uma amiga da filha, o protagonista dá uma virada: larga o emprego e passa a aproveitar a vida sem
ligar para responsabilidades.
O filme, estréia no cinema do
diretor inglês Sam Mendes, fez
sua premiére européia no encerramento do 43º London Film Festival, em 18 de novembro, e foi
muito bem recebido por público
e crítica ingleses.
Vindo do teatro, Mendes recebeu quatro Tony pela bem-sucedida remontagem do musical
"Cabaret". Além disso, dirigiu a
polêmica peça "Blue Room", estrelada por Nicole Kidman. Um
dia depois da premiére européia
de "Beleza Americana", o diretor
recebeu a Folha para uma conversa num hotel londrino.
Folha - Kevin Spacey foi sua
primeira escolha?
Sam Mendes - Desde o começo
pensava nele. Quando aceitei o
trabalho, o estúdio começou a
exigir um grande astro popular,
como Kevin Costner, mas eu não
aceitei. Eu procurava a imagem
de um homem contemporâneo.
Ele foi a escolha óbvia, porque eu
sabia que aceitaria o filme como
um desafio, pois sempre interpretou papéis superlativos, como o
mais vulnerável, o mais inteligente, o mais perdido, mas nunca tinha feito uma pessoa normal.
Folha - É verdade que você
chegou a testar outros atores?
Mendes - Isso realmente aconteceu. Mas acho que tive sorte,
porque as coisas estavam tão claramente erradas que não dava para não notar de cara. Pior seria se
tivesse filmado tudo e ficasse descontente com o resultado final.
Folha - O que te levou a decidir por "Beleza Americana", entre os roteiros que tinha à mão?
Mendes - Foram duas coisas.
Primeiro eu queria fazer um filme
atual, não um drama de época.
Não queria filmar adaptação de
Jane Austen, isso não sou eu.
Eu também queria achar um filme pelo qual sentisse algo, porque
acho que dirigir um filme é muito
mais criativo do que dirigir uma
peça. O teatro é a mídia dos atores
e o cinema é a mídia dos diretores.
Senti uma coisa muito forte fazendo esse filme, que acabou se
refletindo na minha própria vida.
Folha - O filme é a visão inglesa do modo de vida americano?
Mendes - Eu não gosto de pensar assim. Uma das coisas que o
filme mostra é que a vida de qualquer pessoa é muito mais complexa e interessante do se possa
imaginar. Esse é o ponto de partida do filme. Eu acho que ele não é
somente sobre americanos. Eu
não acho que o filme fala sobre o
que é errado nos EUA, porque
aquilo pode estar acontecendo
em qualquer lugar do mundo.
Folha - O teatro influenciou
muito o filme?
Mendes - A visão que você tem
das cenas no teatro é uma. No filme é uma coisa completamente
diferente, muito mais complexa,
porque você tem de pensar em todos os momentos, em cenas que
você só filmará semanas depois.
Folha - Qual é o seu próximo
projeto?
Mendes - Estou estudando alguns roteiros para o cinema, mas
ainda não tenho nada fechado.
O cinema consome muito a sua
vida. O teatro para mim é como
praticar um esporte: você faz seu
trabalho toda noite e depois volta
para casa despreocupado. No cinema você dorme pensando no
filme, acorda imaginando cenas e
tem uma série de preocupações
que não existem no teatro, e isso é
muito desgastante.
Quando você pensa que acabou,
começa de novo: tem de acompanhar a edição, pensar nas músicas
e em um monte de detalhes que
passam despercebidos a muita
gente. Depois que o filme é lançado, você ainda passa alguns meses
promovendo, dando entrevistas...
Você acaba vivendo exclusivamente, durante um bom tempo,
para o filme.
Folha - Quando você pretende
dirigir outra peça?
Mendes - Talvez faça algo no
ano que vem, mas ainda não há
nada certo. Estou me animando
para fazer um novo filme, porque
acho que ainda tenho algumas
coisas a dizer no cinema.
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