São Paulo, sexta-feira, 22 de dezembro de 2000

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CINEMA/ESTRÉIAS

"VERGER"

Documentário restitui laço de Brasil e África

TIAGO MATA MACHADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

C omo Jean Rouch, que aparece aqui num museu de estatuária africana, Pierre Verger rompeu com sua identidade européia burguesa para descobrir-se, noutros trópicos, um outro. Para além da etnologia, isto é, no transe, os dois gritaram: "Eu, um Negro" ("Moi, un Noir").
No documentário "Verger Mensageiro entre Dois Mundos", de Lula Buarque de Hollanda, é Gilberto Gil quem encarna esse devir negro de Verger. É ele quem dá voz às palavras de Verger depois de entrevistá-lo um dia antes de sua morte.
É Gil quem se torna um mensageiro entre dois mundos ao levar a notícia da morte de Verger para África, retomando o périplo da vida do etnólogo.
Filho espiritual de Mãe Senhora de Ialorixá, em Salvador, e de Fatumbi ("nascido de novo graças ao Ifá"), na África, Pierre Verger permaneceu 17 anos entre as duas terras para provar, em definitivo, que a religião foi, no fluxo/refluxo dos tempos escravocratas, a grande forma de resistência da cultura africana no Brasil.
Essa intrínseca relação entre brasileiros e africanos, o documentário consegue estabelecer, naturalmente, por conta própria. Falta ao documentário, no entanto, justamente uma montagem capaz de ressaltar melhor essas suas qualidades. A presença de Gilberto Gil também, apesar de muito propícia, acaba sendo um tanto cômoda para os realizadores do projeto.
Não fosse, por exemplo, a especial disposição que Gil demonstra em terras africanas, o filme recairia provavelmente naquele nível -algo turístico- de primeira abordagem que marca boa parte dos documentários televisivos.


Verger - Mensageiro entre Dois Mundos
   
Direção: Lula Buarque de Hollanda
Produção: Brasil, 1999
Com: Gilberto Gil
Quando: a partir de hoje no Top Cine



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