São Paulo, sábado, 22 de dezembro de 2001

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ARTES PLÁSTICAS

Artista vai ao Afeganistão buscar ruínas de estátuas destruídas para a Bienal de SP

Arthur Omar caça restos de Budas

Reuters
Buda em Bamiyan (Afeganistão), que foi destruído pelo Taleban


FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

É uma missão quase impossível. Alfons Hug, o curador da 25ª Bienal de São Paulo, incumbiu o artista plástico Arthur Omar de ir ao Afeganistão para trazer restos das estátuas dos Budas, destruídas em março passado pelo Taleban.
"No século 20, a arte confrontou-se permanentemente com a ruína e, nesse caso, o objetivo é apresentar a matéria-prima. O que foi destruído não foi a cidade, tema da Bienal, mas uma obra de arte", disse Hug à Folha.
Os Budas gigantes de Bamiyan, no Afeganistão, com 53 metros de altura e esculpidos há mais de 1.500 anos, foram destruídos em março passado pelo Taleban, que governava o país na época. A Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) descreveu a ação como "crime contra a cultura".
Omar deve realizar a missão no Afeganistão em janeiro. "A configuração da viagem ainda está sendo definida, o que posso dizer é que será uma forma de arte radical", diz o artista. A caça aos restos dos Budas será registrada em vídeo e fotografia. O resultado será apresentado na Bienal de São Paulo, que deve ser inaugurada em março do próximo ano, na sala da 12ª metrópole, definida como "a cidade utópica". "Além das imagens, meu objetivo é trazer partes das cabeças dos Budas", afirma.
"Já pensava em conseguir os restos dos Budas logo que o crime foi cometido. Com as consequências dos atentados de 11 de setembro, isso parecia impossível, mas agora a situação está mais tranquila, e acho Arthur Omar o aventureiro ideal para a missão", diz Hug.
"De fato estou me especializando em aventuras. Fui para a Amazônia e me perdi, também recebi recentemente uma proposta de ir para a Antártica. Gosto de projetos que possam mudar minha vida. Ir ao Afeganistão faz parte desse contexto", diz Omar.
A ação está sendo planejada sem nenhum tipo de acordo diplomático pela Fundação Bienal. "Não há como negociar com o governo do Afeganistão, tudo terá que ser feito em espírito de aventura", diz o curador, que desenvolve o projeto em conjunto com uma emissora de televisão brasileira.




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