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Crítica/MPB
Tensa, Ana Carolina busca dar vazão a hits de fim de ano em disco duplo
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL
Você pode até não gostar,
mas não há como ignorar que a mulher é um
fenômeno. Pode até nunca ter
ouvido nenhuma música dela,
mas com certeza já ouviu falar
sobre. Ana Carolina é bi, e daí?
Daí que a cantora mineira parte
para a duplicidade também em
disco, "Dois Quartos", CD duplo, mais uma ousadia em tempos nos quais a indústria fonográfica segue em queda livre.
Mas Ana é um sucesso popular, de discos que atingem diferentes classes sociais, provável
hit em amigo secreto. Sua coletânea "Perfil", por exemplo, foi
o CD mais vendido de 2005, segundo a ABPD (Associação
Brasileira dos Produtores de
Discos); "Ana & Jorge" emplacou hits como "É Isso Aí", versão para "The Blower's Daughter", de Damien Rice.
E ao que se deve tanto sucesso? A uma das coisas mais tradicionais da música popular: a
identificação com o público via
letras confessionais sobre
amor sofrido, ou seja, a velha e
boa "música de corno" -sem
desmerecê-la, já tendo rendido
aberrações dentro da música
sertaneja, mas que é 90% da
matéria-prima para os compositores. Ana fala a língua do povo, "entende" o que as pessoas
sentem e serve de modelo ao
propor ousadias sexuais.
Conceito
Não espere inovações neste
"Dois Quartos". Ana segue vícios que fizeram sua fama, hoje
já convertidos em estilo, que é
uma mistura de entonações de
voz e variações de Cássia Eller,
Alcione, Angela Ro Ro e Zélia
Duncan. Mas tudo de uma forma um tanto tensa, rígida, mais
grave em todos os sentidos, como se Ana estivesse apontando
o dedo na cara do ouvinte.
O CD tem um conceito. O primeiro disco, chamado "Quarto", quer tocar nas rádios. Seguem a pegada forte de violão,
as baladas, a sonoridade entre a
MPB, o samba e o pop. A parte
sofrida traz canções como
"Aqui" ("Eu nunca disse que
iria ser/a pessoa certa pra você") e "Vai" ("Como assim? Você disse que me amava tanto
ontem"), de versos de telenovelas. Em "Eu Comi a Madona",
deixa as sutilezas de lado.
Recente vítima de assalto no
Rio, Ana busca músicas de temas mais sociais, como "Nada
Te Faltará" ou "Notícias Populares", em que lança olhar para
as pessoas na rua.
Já o segundo disco, "Quartinho", traz canções de menos
apelo radiofônico, com duas
faixas instrumentais. O CD
abre com "La Critique", que
traz depoimentos de pacientes
de centros psiquiátricos.
É também o CD mais interessante, e mesmo que as reafirmações de sexualidade de músicas como "Homens e Mulheres" ("E eu gosto de homens e
mulheres") cheguem a ser
exaustivas, traz uma cantora
com vontade de expandir seus
limites. Relaxa um pouco, Ana.
DOIS QUARTOS
Artista: Ana Carolina
Lançamento: Sony BMG
Quanto: R$ 43,90, em média
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