São Paulo, sexta-feira, 22 de dezembro de 2006

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Crítica/MPB

Tensa, Ana Carolina busca dar vazão a hits de fim de ano em disco duplo

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL

Você pode até não gostar, mas não há como ignorar que a mulher é um fenômeno. Pode até nunca ter ouvido nenhuma música dela, mas com certeza já ouviu falar sobre. Ana Carolina é bi, e daí?
Daí que a cantora mineira parte para a duplicidade também em disco, "Dois Quartos", CD duplo, mais uma ousadia em tempos nos quais a indústria fonográfica segue em queda livre.
Mas Ana é um sucesso popular, de discos que atingem diferentes classes sociais, provável hit em amigo secreto. Sua coletânea "Perfil", por exemplo, foi o CD mais vendido de 2005, segundo a ABPD (Associação Brasileira dos Produtores de Discos); "Ana & Jorge" emplacou hits como "É Isso Aí", versão para "The Blower's Daughter", de Damien Rice.
E ao que se deve tanto sucesso? A uma das coisas mais tradicionais da música popular: a identificação com o público via letras confessionais sobre amor sofrido, ou seja, a velha e boa "música de corno" -sem desmerecê-la, já tendo rendido aberrações dentro da música sertaneja, mas que é 90% da matéria-prima para os compositores. Ana fala a língua do povo, "entende" o que as pessoas sentem e serve de modelo ao propor ousadias sexuais.

Conceito
Não espere inovações neste "Dois Quartos". Ana segue vícios que fizeram sua fama, hoje já convertidos em estilo, que é uma mistura de entonações de voz e variações de Cássia Eller, Alcione, Angela Ro Ro e Zélia Duncan. Mas tudo de uma forma um tanto tensa, rígida, mais grave em todos os sentidos, como se Ana estivesse apontando o dedo na cara do ouvinte.
O CD tem um conceito. O primeiro disco, chamado "Quarto", quer tocar nas rádios. Seguem a pegada forte de violão, as baladas, a sonoridade entre a MPB, o samba e o pop. A parte sofrida traz canções como "Aqui" ("Eu nunca disse que iria ser/a pessoa certa pra você") e "Vai" ("Como assim? Você disse que me amava tanto ontem"), de versos de telenovelas. Em "Eu Comi a Madona", deixa as sutilezas de lado.
Recente vítima de assalto no Rio, Ana busca músicas de temas mais sociais, como "Nada Te Faltará" ou "Notícias Populares", em que lança olhar para as pessoas na rua. Já o segundo disco, "Quartinho", traz canções de menos apelo radiofônico, com duas faixas instrumentais. O CD abre com "La Critique", que traz depoimentos de pacientes de centros psiquiátricos.
É também o CD mais interessante, e mesmo que as reafirmações de sexualidade de músicas como "Homens e Mulheres" ("E eu gosto de homens e mulheres") cheguem a ser exaustivas, traz uma cantora com vontade de expandir seus limites. Relaxa um pouco, Ana.


DOIS QUARTOS   
Artista: Ana Carolina
Lançamento: Sony BMG
Quanto: R$ 43,90, em média


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