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Música
Nina Miranda cria conto de fadas sonoro
Shrift, que lança seu primeiro disco, "Lost in a Moment", é a atual banda da cantora brasileira do grupo inglês Smoke City
Com letras em inglês e português, Shrift lembra projeto anterior de Miranda, que antecipou a onda bossa eletrônica lounge
RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Há nove anos, em qualquer rádio ou rede de
TV do mundo, em especial da Europa, você ouvia
uma música de gosto brasileiro,
levada relax no violão, batida
eletrônica discreta, cuíca sampleada e uma voz lânguida cantando coisas como "Esse amor
com paixão, ai que coisa". Era o
Smoke City, banda inglesa que
tinha à frente a cantora brasileira Nina Miranda e que fez
enorme sucesso em 1997 com a
música "Underwater Love".
Além de ser uma música deliciosa e de ter saído de um ótimo
disco cheio de outras boas canções, "Underwater Love", nas
paradas, foi uma espécie de
prévia do que aconteceria alguns anos depois com o estouro
de Bebel Gilberto e sua bossa
lounge e as inúmeras cópias
que surgiram em seguida.
Para o Smoke City, seguiu-se
um segundo álbum e cada um
partiu para seu projeto. Miranda participou de gravações ao
lado de amigos.
Miranda está de volta em novo projeto, Shrift, com um primeiro álbum, "Lost in a Moment", que acaba de ganhar
edição nacional. Ao lado de um
novo parceiro musical, Dennis
Wheatley, a cantora fez um disco que lembra o Smoke City,
mas segue linha própria. "O
Smoke City era mais brincalhão, o Shrift é mais introspectivo", explica a cantora à Folha.
"Esse é um disco frágil, sensível, doce, feito sem pensar em
quem iria ouvi-lo. Nós o gravamos como um hobby, como
uma terapia, não importava se
ia acontecer algo. Mas fomos
mostrando, as pessoas foram
gostando, e acabamos em uma
gravadora que entendeu e não
nos pressionou."
Ritmo lento
O processo de gravação, ela
conta, foi relaxado e improvisado, com tudo sendo feito com
calma no estúdio caseiro de
Wheatley. "Esse disco demorou cinco anos pra ficar pronto,
oi bem devagar. Fomos fazendo
tudo de maneira improvisada:
quando ouvia as músicas, deixava a fita gravando e ia criando
na hora."
Dizendo que gostaria de fazer um show, especialmente no
Brasil, mas sem grande pressa
para realizá-lo, ela conta que
existe também a possibilidade
do Smoke City (Nina e seus
dois parceiros, Mark Brown e
Chris Franck) se reunir para
um terceiro disco. "O Smoke
City foi inovador, mas hoje isso
virou um clichê. Essa coisa
lounge, em português, com
uma mulher sexy cantando. A
gente se encontra e tem idéias
para músicas novas, mas fazemos tudo devagar. Acho que vamos fazer e ver o que acontece,
mas tem que ser pela paixão,
tem que ser um disco que a gente gostaria de comprar."
Com um clima visual cheio
de colagens de sons e letras em
inglês e português que parecem
contar uma história, a cantora
lembra que seu novo projeto
nasceu com a idéia de criar algo
que soasse como um sonho ou
um conto de fadas. "São como
conversas gravadas. Mas conversas só com música, sem precisar falar. São frases inacabadas, quero que o ouvinte faça a
sua conclusão. É chato ouvir
uma letra toda explicada, gosto
que não entendam tudo o que
digo. O mundo tem tantas palavras que às vezes é bom buscar
o silêncio, a paz. O Shrift é como o silêncio sem silêncio."
LOST IN A MOMENT

Artista: Shrift
Lançamento: Six Degrees/Ginga P
Quanto: R$ 40, em média
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