INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

"Dois Filhos de Francisco" (Telecine Premium, 22h) não é nem de longe o grande filme que alguns brasileiros pensam que é. Há pelo menos 70 anos os norte-americanos fazem e refazem essa história de gente humilde buscando e alcançando o sucesso.
Entre nós isso é original sobretudo pela hipocrisia implicada: sabemos muito bem que essa fábula do direito do homem pobre de impor o seu valor é uma farsa. Falta-lhe o mínimo de condições materiais (e democráticas, falemos com franqueza) para chegar a isso. Restam duas portas estreitas: a música popular e o futebol.
Pode haver exceções aqui e ali, mas a história de ascensão social aqui narrada existe basicamente para comover a classe média que hoje vai ao cinema (e que, em geral, já teve suas chances).
Ok, os críticos de cinema são uns chatos, estraga-prazeres etc. Mas há um mínimo a exigir na vida, que inclui, no caso, um pouco de verdade na relação entre a vida real, sua representação e suas decorrências.


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