São Paulo, terça-feira, 23 de janeiro de 2001

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ROCK IN RIO


CRÍTICA


À parte o oportunismo, Red Hot fez por merecer



ISRAEL DO VALE
ENVIADO ESPECIAL AO RIO



A nticlimático, mas corajoso. O encerramento do Rock in Rio na noite de domingo levou ao palco um Red Hot Chili Peppers confiante na performance de palco, mais que nos sucessos pré-"Californication" -hit que os trouxe de volta ao cenário nacional, após longo e tenebroso ostracismo.
Era um dos shows mais aguardados do festival -com resposta certa de audiência para uma das poucas bandas gringas que vendem meio milhão de cópias no país.
A combinação disso com a "ânsia de participar da história" marcante no imaginário coletivo pop (ou, trocando em miúdos, o desespero de poder dizer "eu fui") se refletiu no maior público de todo o festival.

Música
O Red Hot fez por merecer. À parte o oportunismo de extrair quase metade das músicas de seu disco mais recente (um pouco de pretensão para um show de multidão e muito de descaramento como vendedores do peixe que interessa no momento), a banda pôs em primeiro plano uma das coisas raras no circuito de espetáculos musicais recente: a música.
Talvez seja essa a marca que distinguiu os bons shows dos demais no festival. Quem fez música, para além da parafernália de suporte (explosões, coreografias, palcos móveis), saiu pelo menos ileso -em geral, mais que isso.
Ainda que estejam longe do brilhantismo como criadores, os norte-americanos apimentados sabem forjar uma cruza original de black music com pop, a um só tempo instigante e cheia de apelos -à dança, ao refrão pegajoso, ao pula-pula na platéia, aos momentos-ternura das baladas.
Guitarrista excepcional, John Frusciante é um construtor de timbres bem ajustados a cada levada. Cheio de groove, no esfregamento bruto das cordas ou na delicadeza, cria climas envolventes e confere volume e densidade às músicas.
A bateria recortada de Chad Smith conduz as inversões típicas das canções do Red Hot, feitas de espasmos. Anthony Kiedis tem vigor, carisma (ainda que lhe falte "simancol" com os "I love you Rio" excessivos) e certa graça, na sua invocação roberto-carliana de cantar com o pedestal na mão. Mas o homem-chave da banda, musicalmente, é o baixista Flea -um trator que puxa a banda para a catarse, aplaina o terreno para os solos, extrai raízes cadenciadas/voluptuosas do chão de terra black.
Foi um bom encerramento, com vigor, que trouxe lama (graças aos carros-pipa chafarizes que refrescavam o público) ao festival do poeirão, dos peladões e das pequenas muletas tecnológicas -com destaque para os "playback street boys" teens e o show cantado com ajuda de teleprompter (aquele aparelho que os apresentadores de TV usam para ler as notícias!!!) por Rob Halford. Que venha o quarto -mas Por uma Programação Melhor, pelo amor de Zeus!


Avaliação:    


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