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ROCK IN RIO
CRÍTICA
À parte o oportunismo, Red Hot fez por merecer
ISRAEL DO VALE
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
A nticlimático, mas corajoso. O encerramento do
Rock in Rio na noite de domingo
levou ao palco um Red Hot Chili
Peppers confiante na performance de palco, mais que nos sucessos
pré-"Californication" -hit que
os trouxe de volta ao cenário nacional, após longo e tenebroso ostracismo.
Era um dos shows mais aguardados do festival -com resposta
certa de audiência para uma das
poucas bandas gringas que vendem meio milhão de cópias no
país.
A combinação disso com a "ânsia de participar da história" marcante no imaginário coletivo pop
(ou, trocando em miúdos, o desespero de poder dizer "eu fui") se
refletiu no maior público de todo
o festival.
Música
O Red Hot fez por merecer. À
parte o oportunismo de extrair
quase metade das músicas de seu
disco mais recente (um pouco de
pretensão para um show de multidão e muito de descaramento
como vendedores do peixe que
interessa no momento), a banda
pôs em primeiro plano uma das
coisas raras no circuito de espetáculos musicais recente: a música.
Talvez seja essa a marca que distinguiu os bons shows dos demais
no festival. Quem fez música, para
além da parafernália de suporte
(explosões, coreografias, palcos
móveis), saiu pelo menos ileso
-em geral, mais que isso.
Ainda que estejam longe do brilhantismo como criadores, os
norte-americanos apimentados
sabem forjar uma cruza original
de black music com pop, a um só
tempo instigante e cheia de apelos
-à dança, ao refrão pegajoso, ao
pula-pula na platéia, aos momentos-ternura das baladas.
Guitarrista excepcional, John
Frusciante é um construtor de
timbres bem ajustados a cada levada. Cheio de groove, no esfregamento bruto das cordas ou na delicadeza, cria climas envolventes e
confere volume e densidade às
músicas.
A bateria recortada de Chad
Smith conduz as inversões típicas
das canções do Red Hot, feitas de
espasmos. Anthony Kiedis tem
vigor, carisma (ainda que lhe falte
"simancol" com os "I love you
Rio" excessivos) e certa graça, na
sua invocação roberto-carliana de
cantar com o pedestal na mão.
Mas o homem-chave da banda,
musicalmente, é o baixista Flea
-um trator que puxa a banda para a catarse, aplaina o terreno para
os solos, extrai raízes cadenciadas/voluptuosas do chão de terra
black.
Foi um bom encerramento,
com vigor, que trouxe lama (graças aos carros-pipa chafarizes que
refrescavam o público) ao festival
do poeirão, dos peladões e das pequenas muletas tecnológicas
-com destaque para os "playback street boys" teens e o show
cantado com ajuda de teleprompter (aquele aparelho que os apresentadores de TV usam para ler as
notícias!!!) por Rob Halford. Que
venha o quarto -mas Por uma
Programação Melhor, pelo amor
de Zeus!
Avaliação:
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