UOL


São Paulo, quinta-feira, 23 de janeiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LIVRO/LANÇAMENTO

Uma coletânea de contos e uma reunião de documentos e artigos chegam às livrarias brasileiras

Vampiro morde na história e na literatura

Divulgação
O ator Bela Lugosi, que escreveu o texto "Eu Gosto de Interpretar Drácula', publicado em 'Voivode'


IVAN FINOTTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Longe das brincadeiras infantis e (d)efeitos especiais da novela das sete da Globo, "O Beijo do Vampiro", dois livros sobre vampiros estão chegando às prateleiras. Recheados de contos e documentos inéditos no Brasil, as novas obras são sérias e, claro, assustadoras.
"13 dos Melhores Contos de Vampiros da Literatura Universal" já pode ser encontrado nas livrarias. Como diz o nome, é um apanhado da literatura vampiresca, de Bram Stoker, criador de "Drácula", a Anne Rice, de "Entrevista com o Vampiro". Aqui, esses autores comparecem com "O Hóspede de Drácula" e "O Senhor de Rampling Gate".
Organizado por Flávio Moreira da Costa, os contos ganharam novas traduções e pequenas notas introdutórias. "Por tratar de um mito anglo-saxão, não há autores nacionais", diz Costa.
O livro é o primeiro de uma nova série da Ediouro que vai reunir sempre 13 contos de um gênero, como literatura fantástica ou ficção científica.
O segundo livro vampiresco, "Voivode - Estudos Sobre os Vampiros", da editora independente Pandemonium, sai em fevereiro. "Voivode" significa "chefe de Exército", a denominação com que Vlad Draculya (1431-76) era conhecido -e temido.
O livro, organizado por Cid Vale Ferreira, é uma pesquisa sem precedentes no Brasil sobre origens, formação do mito, análises e ensaios sobre os dentuços. Traz resenhas de filmes, quadrinhos, poesia, prosa e uma batelada de documentos interessantes.
Os góticos e darks vão delirar especialmente com o poema do escritor santista João Cardoso de Menezes e Souza (1827-1915), o primeiro que se tem notícia no país a escrever sobre o tema.
Trata-se do poema "Octavio e Branca ou a Maldicção Materna", de 1849. "É uma espécie de "Romeu e Julieta" de terror", afirma o organizador Ferreira. "No final, o casal morre, renasce durante o velório e mata o pai dela."
Ferreira encontrou o poema em um golpe de sorte, após ver uma menção a ele numa pequena nota de rodapé em um livro de poesia simbolista. Com as informações, ele encontrou o poema na Biblioteca Nacional, no Rio.

Documentos sangrentos
Misturado aos artigos dos oito pesquisadores, historiadores, filósofos e críticos que assinam o livro, há textos de Voltaire (que escreveu o verbete "Vampiros" para o Dictionnaire Philosophique de 1764), Bela Lugosi (com "Eu Gosto de Interpretar Drácula", de 1935) e diversos anônimos a partir do século 15.
Um desses documentos anônimos é o panfleto alemão "Sobre o Cruel Tirano Voivode Draculya", de 1488. Ali estão descritas diversas atrocidades -a mais famosa é o empalamento- cometidas por Vlad Draculya na Valáquia e Transilvânia, hoje Romênia.
"Foi escrito por alemães irritados porque Draculya interrompeu o comércio com os bávaros. Pode ter sido verdade, mas pode ser exagero", conta Ferreira, que se preocupa em situar os fatos historicamente na obra.
Outro documento impressionante é a descrição das atas do tribunal húngaro que condenou Erzsébet Báthory, a "Condessa Sanguinária", a morrer emparedada (numa solitária sem porta). O texto é de 1661 e descreve como ela matou 600 virgens para se banhar em seu sangue.
Além do poema inaugural sobre vampiros no país, "Voivode" reúne 13 poesias brasileiras, que comprovam a presença do monstro do arcadismo ao modernismo. Há ainda um site com extras: http://carcasse.com/home/.

VOIVODE. Org.: Cid Vale Ferreira. Editora: Pandemonium (0/xx/11/4587-9735). Quanto: R$ 39,90 (368 págs.).

13 DOS MELHORES CONTOS DE VAMPIROS DA LITERATURA UNIVERSAL. Org.: Flávio Moreira da Costa. Editora: Ediouro (0/xx/21/3882-8200). Quanto: R$ 39 (320 págs.).



Texto Anterior: E-Memória: Um guia para Mr. Broadway
Próximo Texto: Trecho
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.