São Paulo, sexta-feira, 23 de janeiro de 2004

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Filme possui tom pessoal, diz Coppola

DO "INDEPENDENT"

Em "Encontros e Desencontros", Charlotte, uma garota inteligente e instruída, casada com um fotógrafo moderninho que não lhe dá valor, se vê encerrada num quarto de hotel em Tóquio, buscando algum sentido em sua vida. Enquanto isso, em Londres, Sofia, uma garota inteligente e instruída, divorciada há pouco de um fotógrafo moderninho, está encerrada num quarto de hotel, buscando sentido em seu filme.
Coppola não é conhecida por ser hábil com as palavras. A diretora de "As Virgens Suicidas" e de "Encontros e Desencontros", filha de Francis Ford Coppola, possui um estilo visual ferrenhamente intuitivo e um jeito próprio de observar. Mas ninguém pode dizer que seja uma faladora nata.
Seu hábito é iniciar uma sentença com um toque promissor de atitude e depois se afastar dela, deixando-a desaparecer no nada. Mas esse modo de falar pouco articulado esconde uma vontade poderosa. Contrariando os conselhos de seu pai, Coppola escreveu o roteiro de ""As Virgens Suicidas" quando os direitos já pertenciam a outra pessoa (e abocanhou a história assim que esse primeiro contrato foi desfeito).
A produção de "Encontros e Desencontros", o trabalho seguinte, tampouco deixou de ter problemas, como o fato de que ninguém sabia se seu astro -Bill Murray, que faz o papel de Bob, um ator decadente- iria ao set.
Apesar disso ela levou sua equipe toda a Tóquio. ""Mais ou menos na metade do filme, estávamos muito atrasados em relação ao cronograma previsto, e me disseram que eu teria de cortar algumas coisas", recorda. "Eu disse não, de jeito nenhum. Felizmente, então, meu irmão Roman veio e filmou a segunda unidade, e pudemos recuperar o tempo perdido e fazer tudo. É sorte minha ter um irmão talentoso e bacana."
Coppola diz que o filme é pessoal para ela, mas se nega a revelar até que ponto é autobiográfico. Ela se mostra reticente diante da sugestão de que o desagradável marido de Charlotte, um fotógrafo representado por Giovanni Ribisi, possa ser baseado em seu ex-marido, Spike Jonze. "Não é", responde friamente. "Mas há alguns elementos dele, sim. Seu personagem é mais uma caricatura vista do ponto de vista de Charlotte".
A cineasta também refuta as acusações de preconceito em relação aos japoneses, que, segundo alguns, foram retratados de maneira estereotipada. "Acho que alguém entendeu mal as minhas intenções. Isso me irrita porque sei que não sou preconceituosa. Acho que as pessoas podem se ofender com qualquer coisa que você fizer, a não ser que esteja tentando especificamente ser bonzinho em relação a todo o mundo."


Tradução Clara Allain

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