São Paulo, domingo, 23 de janeiro de 2005

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ONG acusa Globo de "destruir" ferrovia

Jefferson Coppola/Folha Imagem
Crianças brincam em parte da ferrovia Madeira-Mamoré que está abandonada, em Rondônia


JOSÉ EDUARDO RONDON
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO VELHO (RO)

A ONG Amigos da Madeira-Mamoré, criada em 79 por representantes da sociedade civil para preservar o acervo da ferrovia, acusa a produção de "Mad Maria" e o governo de Rondônia de ter retirado trilhos e dormentes que fazem parte da malha ferroviária para as filmagens da minissérie.
"Foi um ato de destruição que foi praticado em relação à ferrovia. Em Abunã foram retirados trilhos e dormentes em busca de melhores condições para a realização dos trabalhos", disse o arquiteto e presidente do conselho administrativo, Luís Leite.
Para realizar as gravações, a Rede Globo pediu autorização à GRPU (Gerência Regional de Patrimônio da União), órgão ligado à Secretaria de Patrimônio da União e subordinado ao Ministério do Planejamento.
O representante da GRPU em Rondônia, Antônio Roberto dos Santos Ferreira, disse que a autorização foi emitida por meio de portaria publicada no "Diário Oficial" da União, em que consta que a emissora terá, até 30 de janeiro, de devolver a área na forma como foi encontrada. "Não havia autorização para trilhos e dormentes serem retirados. Se isso ocorreu, devem ser recolocados."
O secretário da Cultura, Esporte e Lazer de Rondônia, Luis Carlos Wenceslau, disse que funcionários do governo retiraram as peças apenas para o embarque e desembarque de uma locomotiva que estava no museu de Guajará-Mirim (330 km de Porto Velho) e que foi utilizada nas gravações.
Segundo ele, dez quilômetros de trilhos foram recuperados para as gravações e os que foram retirados serão recolocados.
Luís Leite afirmou que a máquina de Guajará-Mirim, fabricada em 1909, não foi devolvida ao local, como havia sido acordado entre o governo e representantes do museu. O arquiteto reclamou ainda que ela foi descaracterizada em sua restauração. "A original tinha o número 20. Na minissérie e como está agora, aparece como 5."
Em documento assinado pelo governador de Rondônia, Ivo Cassol (PSDB), ao qual a Folha teve acesso, consta que "tão logo finalizem as gravações da referenciada minissérie, o governo de Rondônia responsabiliza-se por trazer de volta ao pátio do museu a mencionada locomotiva".
O secretário disse que a máquina será devolvida ao museu da cidade até "a segunda quinzena de fevereiro ou início de março". "A locomotiva está sendo vigiada por funcionários do governo para evitar uma possível depredação."
"Ela [locomotiva] estava abandonada, enferrujada, corroída, sendo utilizada como banheiro e agora está nova, reformada, pintada, em condições de uso. Esse foi o maior presente que a cidade poderia ganhar."
Segundo o secretário, as chuvas que são registradas no Estado nesta época do ano e a necessidade de a locomotiva agora precisar ficar em uma área coberta são os motivos do atraso no reenvio da máquina a Guajará-Mirim.
A reportagem localizou a locomotiva na tarde de quinta-feira em uma localidade conhecida como Santo Antônio, a 8 km de Porto Velho. Seis funcionários do governo permanecem naquele trecho vigiando a máquina, que não possuía nenhum tipo de cobertura para sua proteção.
O diretor-geral da minissérie, Ricardo Waddington, negou que a emissora tenha retirado trilhos e dormentes da ferrovia. "Eram trilhos soterrados. A reta de Abunã estava sob terra ou sob mato. Nós limpamos a parte dos trilhos, cavamos debaixo dos dormentes e levantamos tudo. Trocamos alguns dormentes que estavam absolutamente podres por outros."
A Central Globo de Comunicação, por e-mail, informou que, em relação à alteração do número da locomotiva, "como a original, que levava o número 5, não existe mais, restauramos a de número 20. Mudamos o número para a minissérie e depois entregamos o original [20], que foi devidamente conservado, aos operários responsáveis pela restauração".
A Globo diz que as gravações se encerram no final de novembro.
"As críticas são feitas por pessoas que só querem aparecer", disse Wenceslau. "Nunca fizeram nada para melhorar a ferrovia. Quando conseguimos fazer algo concreto, só criticam."


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