São Paulo, domingo, 23 de janeiro de 2005

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"MAD MARIA"

Minissérie da Globo foi escrita entre 1980 e 1981, mas não havia tecnologia na época para gravá-la na selva

Produção levou 20 anos para sair do papel

DA REDAÇÃO

A minissérie "Mad Maria" foi escrita por Benedito Ruy Barbosa entre 1980 e 1981. "Ela quase foi produzida para comemorar os 20 anos da Globo [em 1985], mas não havia tecnologia para fazê-la na época", lembra Octavio Florisbal, diretor-geral da emissora, que completa 40 anos em abril.
"Desde que entrei na Globo, há 21 anos, ouço falar de "Mad Maria". Realizá-la é um sonho de vários diretores", diz o diretor-geral da minissérie, Ricardo Waddington, que a redescobriu em 2003.
"Hoje temos tecnologia e experiência de produção para fazê-la. Naquela época, o desconforto de gravá-la na selva seria muito grande", afirma Waddington.
O diretor estudou várias alternativas, entre elas a de construir uma miniferrovia no Rio. Após sobrevoar várias vezes o que restou da Madeira-Mamoré, optou por gravá-la onde a história realmente aconteceu. Sua principal locação é em Abunã, cenário do livro "Mad Maria".
No início de outubro, Waddington embarcou para Rondônia com outros 130 profissionais da Globo. Sob um calor de 35 C, ar muito úmido ("Era só dar dois passos para começar a suar") e horários restritos à faixa das 9h às 17h, para fugir dos ataques do mosquito da malária, gravou em Rondônia durante dois meses.
Segundo Waddington, 30% das cenas de "Mad Maria" foram captadas em Rondônia, onde foram arregimentados 150 figurantes. O resto será no Rio, onde se desenvolve outra trama, a dos bastidores políticos da construção da Madeira-Mamoré.
"Em Rondônia, montamos tendas com ventiladores. Tínhamos banheiros químicos e muitos picolés. Há 20 anos, isso seria impossível", afirma.
Também contribuiu para a viabilização da megaprodução (orçada em cerca de R$ 12 milhões) o apoio do governo de Rondônia, que investiu pelos menos R$ 500 mil na recuperação de oito quilômetros de ferrovia, no restauro de uma locomotiva e na cessão de operários, médicos e policiais.
Ao todo, a minissérie mobilizou cerca de 400 profissionais em Rondônia. Elenco e técnicos geraram só nos 30 dias que ficaram em Guajará-Mirim, uma das bases de gravações, impacto de R$ 1 milhão na economia da cidade.
A produção da Globo percorreu todo o percurso original da ferrovia, de quase 380 km. A locomotiva que representa Mad Maria, nome da máquina que há um século abria a estrada de ferro, era transportada em carreta.
Outro aspecto que tornou a minissérie viável foi o uso de efeitos especiais. Graças à tecnologia, a Globo economizará em cenários. Para tanto, usará cerca de 20 imagens do fotógrafo norte-americano Dana Merrill, que registrou a construção da Madeira-Mamoré.
"Vamos trabalhar com computação gráfica. Pegamos uma seqüência de quatro ou cinco fotos. Na última, nós fazemos uma animação em que ela se transforma em uma cena", diz Waddington.
"Mad Maria" também abusará de um recurso, experimentado em "Um Só Coração" (2004), que dará "vida" a fotos antigas do Rio de Janeiro. Paisagens do início do século 20 ganharão veículos e pessoas em movimento.
Como a minissérie é muito violenta, por causa das brigas entre os diferentes povos que vieram construir a ferrovia, efeitos especiais em 3D tornarão possível cortar a cabeça de um operário e as duas mãos de um índio. Acredita-se que 6.000 pessoas morreram na obra, a maioria por doenças.
A Madeira-Mamoré foi concluída pelo empreendedor americano Percival Farquhar (Tony Ramos). O governo brasileiro investiu na ferrovia para compensar a Bolívia pelo território do Acre. A ferrovia iria superar 19 cachoeiras dos rios Madeira-Mamoré que dificultavam o transporte de borracha da Bolívia para o Atlântico, via Amazonas. Mas, ao ser concluída, a borracha entrava em decadência.
Na minissérie, isso é contado com um romance, com encontros e desencontros, em primeiro plano: o de Finnegan (Assunção) e Consuelo (Ana Paula Arósio).


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