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Estudo tira dos trilhos ideologia do progresso
DA REPORTAGEM LOCAL
"Trem-Fantasma" nasceu do
meio da poeira. O ano era 1980 e
Francisco Foot Hardman estava
vasculhando velharias em um sebo de Recife quando encontrou o
volume "A Fogueira do Diabo",
de Manoel Rodrigues Ferreira.
Mais até do que o tema, que já
era de seu interesse, foi uma foto
no interior do volume que seduziu o professor, a imagem de um
hindu de olhar absorto, turbante e
braços cruzados logo abaixo do
peito (não por acaso aqui à dir.).
"Fiquei com esse enigma passeando na cabeça. Quem seria
aquele hindu", lembra Hardman.
À época um mestre à caça de assunto para seu doutorado, acabou
achando a trilha por trás do "ar
sóbrio e decidido" daquele trabalhador da Madeira-Mamoré.
Hardman se embarafustou em
florestas de livros (são 37 páginas
de bibliografia) e de lá saiu após
quatro anos com sua tese.
"Trem-Fantasma", transformada em 88 em livro pela então iniciante Companhia das Letras, que
agora o reedita, traz no corpo as
marcas da trajetória híbrida de
seu autor. Formado em ciências
sociais, com mestrado em política, na área de história do trabalho,
Hardman, hoje professor de teoria e história literária da Unicamp,
defendeu seu doutorado no Departamento de Filosofia da USP.
Mais do que uma história ou
um ensaio sobre a ferrovia aberta
a ferro e sangue, o livro traça um
amplo e original painel sobre as
raízes da modernidade e sobre como o Brasil, Madeira-Mamoré incluída, se inseriu nesse processo.
A ferrovia aparece como símbolo bem acabado da ideologia do
progresso, da expansão violenta
do capital e, no caso amazônico,
do choque entre o moderno da cidade e o arcaico da floresta.
Para dar conta de temas como
esses, Hardman usa instrumental
de todas as suas áreas de pesquisa,
da filosofia à literatura. Marx é
uma das marias-fumaças.
Ele diz que não espera que o público global acompanhe toda a
sua sinuosa "estrada de ferro" e
especula que a série não deverá
ser rigorosa, mas elogia a popularização da informação que deve
trazer. "Muita gente que não conheceria esse tipo de coisa vai poder saber que houve numa época,
num lugar perdido da Amazônia,
um empreendimento que implicou milhares de perdas de vidas."
O professor diz que está com
problemas na antena de sua TV,
mas que ele mesmo dará um jeito
de assistir a "Mad Maria".
(CEM)
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